25.12.09

Nochebuena

Termina-se a festa como se termina o dia.
Da emoção, da ansiedade, da exaltação
Nada resta.
Não faz falta.
Já se mostrou tudo, já se viu tudo
O que ficou por dar já não vem.
Bela noite. Esta.
Nem frio nem calor
Nem mal nem bem
Nem bom nem mau
Mais uma noite com lua e o céu escuro.
Um pouco de frio, mas é típico do inverno. Nenhum corpo se espanta nem arrefece. Já estão os corpos preparados, originalmente quentes e pomposos, desculpemos-lhes.
Agora a sala é se não mais um fascínio de papéis que deambulam pelo pedaço de chão que melhor lhes convém, convinham-se.
Dá gosto rasgar papel, e à velocidade a que se rasga, esquecendo-se os escassos minutos perdidos a enrolar o dito, com carinho, no que achámos por bem presentear. Já não há sentimentalidade nenhuma nas coisas que se fazem. É tudo corrido ao marketing da vida. Tudo com carências na originalidade e com falta de tempo para perder nas ideias.
Sociedade.
E dá-se fim à festa, às limpezas, à exaltação, ao esforço culinário, tudo em prol duma tradição longínqua que acredito há muito esquecida entre o grosso da humanidade. Mas não sejamos críticos, atravessamos uma hora de humildade, de compaixão e amor. Sejamos bons, pratiquemos o bem, sob pena de sermos excomungados.
(é-me difícil entender o facto de sermos todos iguais e no fundo sempre vamos tendo quem nos ordene que façamos isto e não aquilo pois seremos punidos por alguma entidade superior. Mas isto são claramente pensamentos meus na minha ideia mais inocente da existência humana.)
Façamos então o que a época nos manda, beijemo-nos, abracemo-nos, amemo-nos, sejamos irmãos e irmãs e como irmãos e irmãs dividamos as nossas pobrezas e riquezas. Sejamos humildes, concretizemos sonhos, apareçamos na comunicação social com sorrisos e bons fatos dizendo não à miséria, mas comamos e bebamos tudo quando pudermos. Sejamos bons, partilhemos e dividamos e por um dia então levemos à séria toda a encenação teatral que durante o resto do ano vivemos sem esforço.
Não rezem irmãos.
Ninguém estará verdadeiramente importado convosco.
Mas a esperança é a última a morrer. Haja esperança!
Bem Hajam.

2 comentários:

  1. Uma sátira bem ao teu jeito. Adorei minha pinipon*

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  2. Gostei do que vi, deste-me uma primeira impressão que me dá vontade de continuar a pôr cá os olhinhos.
    Beijinhos.

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