10.1.10

chaussures de pluie, comme la sauce tomate sur les puces

é possível ter medo.

é possível a submissão à mudança.

Sim é possível.
Este ar,
este alcatrão,
este céu.
A descoberta de estranhos.
Sítios estranhos?
Estranhos.
Estranhos novos todos os dias, mas estranhos ainda assim (novos).
Gosto de lá.
De estar lá.
Uma hora,
duas horas,
três horas,
as horas que me forem necessárias.
É bom.
Gosto.
Eu gosto desta cidade.

Gosto desta cidade com chuva, com frio, com vento.

Dá-me prazer sentir os ossos a estalar e as articulações das mãos entorpecidas, faz-me sentir viva.
Cruzo-me constantemente com almas perdidas que vagueiam sem destino pelas ruas pisadas por tanto par de sapatos, e isso preenche-me. Indivíduos bons e maus, que nunca mais verei, mas todos os dias vejo diferentemente.
São sempre gente nova, mas pertencem sempre ao mesmo grupo pessoal: desconhecidos.
Dá-me prazer levar os meus pés aonde já tanta gente levou os seus.
As ruas, ah!
As ruas desta cidade, encantam-me.
O cheiro é diferente.
Contudo odeio as castanhas assadas no meio do passeio, enjoam-me como se andasse de carrossel, agoniam-me como se fossem as próprias castanhas que são. Mas quanto a isso não posso fazer nada, os vendedores de castanhas ganham a vida, e os clientes lá satisfazem o estômago. Quanto a mim, resta-me o pesadelo de ficar com o cheiro do fumo das castanhas entranhado na pele, ou se calhar estou a exagerar.

É Inverno e está frio.

E eu não tenho botas nem luvas quentes.
Mas posso beber chá ou café, e a minha satisfação fica igual.
Posso pegar nos meus pés, frios, e nas minhas mãos, frias, e no meu corpo, frio, e ir subir e descer ruas, vendo e olhando, como se o dia fosse claro e o céu não estivesse turvo, e fico contente na mesma. E farei isto com o corpo frio ou com o corpo quente, com as articulações emperradas ou com os músculos dilatados, ou posso não fazer isto e fazer outra coisa qualquer.

A verdade é que posso fazer qualquer coisa, desde que queria de facto fazer qualquer coisa. Para fazer qualquer coisa não preciso de grande coisa, basta ir andando e por si só já faço algo.

A vida é simples.
Se não contarmos os passos que damos e formos sempre andando ao nosso próprio ritmo.
É simples se não olharmos para as coisas mas vermos as coisas.
As coisas são simples.
Se não as vermos como complicadas.

Fazer da nossa maior tragédia um acontecimento sem importância é o princípio da sabedoria já o mestre dizia...

3 comentários:

  1. para mim é simples. uso as tuas palavras e refiro-me a londres. penso em qualquer paixão minha e é esse o meu primeiro pensamento.

    estou muito feliz por estares feliz, sabes bem (:

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  2. as tuas palavras são sempre tão bonitas! *

    Laura Marling na Musique <3

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  3. isso não é um aparte! tocaste no ponto (: nós também temos tudo isso, e eles também, mas eles importam-se muito mais do que nós. e claro não falo de mim e de ti, porque se todos fossem como nós, era um grande avanço.

    a cidade é diferente e as pessoas são diferentes e eu gosto é dessa diferença.
    são os sonhos on hold (:

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