1.3.10

Quando tentei tirar a máscara, estava colada à cara.

Eu já não sei escrever. Apercebi-me disto quando reparei que os olhos que tenho não são os meus. Eu já não sei escrever, porque tirei os olhos para ver, e o que vi cegou-me. E agora, assim me deixo ficar, na penumbra da frustração duma folha em branco, como de uma rua sem vida, como de um prédio sem gente. Estou ocupada, estou terrivelmente ocupada em tentar adormecer ou acordar. Não me venham falar, eu já não sei escrever. Ceguei. Enterro-me na cama, cega de tudo e quero que o mundo não seja nada para além das quatro paredes que me rodeiam. Ergo-me ao silêncio que não quero ouvir como ao barulho que me ensurdece e morro em toda a parte. A presença do meu corpo dissipou-se, eu sinto, porque ceguei. Não há sentidos porque tudo acontece, nada acontece. Deixem-me dormir hoje. E amanhã. E depois. E quando eu morrer, deixem-me viva. Não quero morrer. Meteram-me demasiados sorrisos no rosto e agora o sorriso caiu. Os olhos deixaram de ver e o corpo apodreceu. Estou ocupada. Estou terrivelmente ocupada. Vou procurar os olhos que me caíram no corpo que eu nunca quis herdar. Vou buscar o pano e cobrir-me de negro por um momento, eu não existo, isso são coisas da vossa cabeça.

4 comentários:

  1. lindíssimo! lindíssimo!
    amo o que escreves, sempre <3

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  2. Depois deste texto só me lembro de um livro chamado "O Cavaleiro da armadura ferrugenta"!

    Aconselho...

    Beijinho :)

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  3. Sinto a tua falta meu amor

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  4. Sinto a tua falta meu amor.

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