24.6.10

diários da terra do nunca, dia um.



o calor é seco, em cima do telhado os pássaros pavoneiam-se e dançam cantando, e tudo à volta da Casa é calmo e pacato. é assim há anos, presumo que sempre tenha sido assim. toda a vida, e toda a vida neste caso é muito tempo. isto porque, a vida aqui tem outra significação. o tempo aqui, passa vagaroso, sem pressa, nem tempos, sem compromissos. tudo é inexplicavelmente equilibrado e certeiro. o sol nasce, passeia-se pelo céu e quando tiver que se pôr, põe-se e todo o horizonte se pinta em tons quentes. é uma visão bela, quanto baste para me fazer sentir um ser desprezível, preocupada com enganos e desenganos quando à minha volta a natureza é toda ela rejuvenescenora e fluente. mas é assim há anos, esta Casa sempre teve a boa sorte de me minimizar, e mesmo assim é aqui que me sinto de facto em casa. hoje, cerca de trezentos quilómetros me afastam de tudo o que foi o meu sonho durante quase a vida inteira, a viagem até aqui foi-me afastando o corpo de toda essa fascinante carga de seres humanos, alcatrão, prédios e ócios, culturas. e a viagem foi longa. sorri, chorei, escrevi e olhei pela janela. o passado dói, mas é passado. e agora, podemos ou, fugir dele ou, aprender com ele (como dizia o rafiki no rei leão). agora que estou longe da cidade encantada que dia após dia me ia evenenando a alma, o meu corpo destrói as mágoas e recebe o éter deste espaço, esta terra do nunca onde anda o peter pan atrás da sombra, a sininho e o capitão gacho com o barco que voa. Não cheguei ainda a nenhuma resolução do ser, mas tenho quatro livros novos. Não cheguei ainda a nenhuma conclusão mas aqui, sinto-me finalmente calma.


3 comentários:

  1. oh. essa é A Casa. é o lar. como os poetas falam: confortável, calmo. :)

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  2. casas dessas é que fazem bem.
    fui eu que escrevi aquilo, sim. :)

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  3. quero um blogue como o teu, mas pode ser com um fundo diferente :(

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