foi há muito tempo.
tenho estado muitas vezes nos sítios certos às horas certas, mas também, tenho partido desses sítios certos em muitas horas erradas. É isso que me custa; partir dos sítios certos nas piores horas possíveis. Já me aconteceu duas vezes, não gostei da sensação. Gostava de não a repetir, nunca mais sair de um sítio certo à hora errada, ou a nenhuma hora, manter-me simplesmente lá. Mas temos de estar sempre em movimento, sempre a mexer, de um lado para o outro, um lado para o outro. Ir na rua e andar, andar, andar, ver uma pessoa e outra e outra, tomar cafés, beber vinho, conversar, conversar, conversar, e nunca estar lá infinitamente, nunca acertar no sítio, horas certas em sítios errados, sítios errados em horas erradas, sítios certos em horas certas, sítios certos em horas erradas. Como é que me vou esquecer? Foi há muito tempo, mas não me esqueço, não o poderia fazer, esquecer-me-ia até de mim, e esquecer-me de mim não é possível. Foi à muito tempo que encontrei um sítio certo para estar, numa hora perfeitamente certa mas numa altura perfeitamente errada. Foi há muito tempo, mas esse tempo ainda me custa, ainda vive cá dentro agoniando-me alguns dias, ainda me tira o sono algumas vezes quando me custa adormecer, ainda penso que foi há muito tempo e já não devia ter impacto, mas tem. Tem sempre, muito.
Queria muito ir, mas primeiro preciso de conseguir a transferência para a faculdade de Lisboa. Só depois de estar tudo tratado é que faço as malas e vou, assim, como o vento.
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