25.11.12

Somos tão parecidos, pai. Esta vontade de estar sempre em todo o lado e esta inconstância de nunca estarmos bem em sítio nenhum, de nos faltar sempre algo, de querermos sempre algo que não temos, de querer mais, ver mais, sentir mais. Que sede insaciável do mundo é esta, pai? Que mal-estar com que nascemos que nos transtornará até ao último sopro? Que arrogância, que vileza, que mágoa é esta que trazemos ao peito, que arrastamos connosco desde as primeiras horas do dia até o sol se pôr? Somos tão parecidos pai. Bem sei que sonhas grandes caminhos para mim, sem que mo digas, bem sei que lá no fundo e em silêncio me vês conquistadora de grandes feitos, de grandes coisas, implacável, intocável, com olhar triunfante do alto do próprio pedestal que construí. Bem sei. E não será isso o que todos os pais, lá no fundo, sonham? E não será isso porque todos sofrem em vão, silenciosos? Oh pai, somos tão parecidos. Dizia-te que para encontrar o meu lugar, a minha casa, teria de viajar por todo o mundo e só depois saberia onde pertencia, disseste-me que ao fim da minha última viagem morreria, e nunca chegaria a encontrar um lugar. Ri-me. Estás certo pai. Viajarei por todo o lado, conhecerei tantas coisas e provavelmente a minha conclusão será chegar à casa onde nasci. Talvez haja a necessidade de dar uma volta maior para chegar ao princípio e estar em paz. Talvez para mim, esse desejo de dar uma volta maior, seja na verdade uma necessidade que tenho de forma a chegar ao princípio com os olhos cheios de coisas e depois morrer em paz sabendo que vi tanto quanto pude ver. Sei que farias o mesmo pai. Sei que no fundo, pensas também no teu lugar, que já encontraste, mas que continuas a precisar da mesma paz. Somos tão parecidos pai. Sei que queres ainda assim, que eu caia sozinha, como sempre quiseste, sei que me deixarás continuar a cair sozinha, a levantar-me sozinha e a aprender, se a vida é esta viagem. Não me vais dar as soluções porque sabes que vou encontra-las sozinha, tens fé na minha vitória. E não é isso? Um dia, em casa, encontrarei o coração. Somos tão parecidos pai.  

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