4.3.13

o dia em que morreste

Quando me esfaqueaste o coração pensei que desta vez é que era, que nunca mais ia andar de novo, meter um pé depois o outro e outra vez o mesmo e fazer-me à estrada. Foram muitos dias onde respirar doía muito e muitas semanas a viver em modo automático onde o mundo não tinha interesse porque não estavas lá. Quando me esfaqueaste o coração, com toda a brutalidade com que o fizeste, uma angústia fria e vil apoderou-se de todo o meu corpo e continuou a doer durante muito tempo. Quando me esfaqueaste o coração pensei que esta sim, seria a vez derradeira em que o vazio me ia consumir por inteiro e em vez de mim viveria apenas uma alma apodrecida dentro de um corpo vivo. Quando me esfaqueaste o coração doeu muito durante muito tempo e pensei que nunca mais ia conseguir levantar-me. Eventualmente levantei-me. A dor, foi len-ta-men-te abandonando o meu corpo e lentamente fui aprendendo a respirar de novo minuto após minuto. Eventualmente deixou de doer. Foi no dia em que tive a certeza (e tenho poucas) que tinhas morrido para sempre. Foi o dia em que a esperança de ti morreu também. No dia em que tive a certeza que tinhas morrido para sempre em mim, foi o dia em que deixou de doer. Eventualmente respirei de novo livre de dores lacerantes, eventualmente nasci. No dia em que morreste em mim foi o dia em que olhei pela janela e vi pela primeira vez o mundo. E ao ver o mundo sorri. 
Olá mundo, estou aqui e estou em paz, comigo. 

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