29.7.09

Bonecas e Bonecas


Bonecas de Porcelana. Esta madrugada dei comigo a desenvolver uma teoria, sobre as bonecas de porcelana, é verdade. Pessoalmente nunca gostei delas, acho-as ligeiramente assustadoras e pouco funcionais, em criança tive duas, uma de cabelos ruivos e vestido verde, e outra de cabelos petos e vestido cor-de-vinho, a primeira ainda a metia em cima da cama certas vezes, a segunda era tão bonita que eu tinha medo de a tirar da caixa. Passei os dias da infância a olhar para aquele tormento de boneca que de tão perfeita dava medo, a verdade é que nunca brinquei com ela, esteve e está dentro da caixa como quando a recebi, à medida fui-me esquecendo dela, perdida lá pela gaveta de onde nunca saiu, mas também nunca me esqueci daquela maldita beleza que me atormentava a inocência.

As bonecas de porcelana são e serão sempre bonecas perfeitas, as mais perfeitas das bonecas, desde a cara aos cabelos ou à indumentária que trazem, e toda a gente sabe disso. E toda a gente ao saber disso, lhes dizem o quanto são belas, e lindas e magnificas. Mas as bonecas de porcelana continuarão sempre dentro de caixas arrumadas em gavetas, ou dentro de armários para exposição, porque na verdade nenhuma criança se atreve a leva-las para brincar com medo que lhes aconteça algo de mal. Por isso não brincam com elas, metem-nas atrás dum vidro e passam o dia a pensar o quão bonitas são as tristes bonecas, que para mais nada servem se não para contemplação.

Ao contrário das bonecas de trapos, que podem estar o mais miseravelmente vestidas, despenteadas, ou sujas (ou não), mas andam sempre de mãos dadas com as donas. Uma boneca de trapos pode cair, pode sujar-se, pode brincar, ou rasgar-se, que ficará sempre como nova, ou indo para lavar, ou cozendo-se-lhe a roupa, até podem levar pontapés, não se queixam rigorosamente nada. São boas para brincar, para dormir ou para arrastar pelo chão quando somos pequenos demais. Toda a gente brinca com elas, e toda a gente sabe que não são grande coisa, mas todos têm ou já tiveram uma em casa.

E esta será a eterna questão, de que serve à boneca de porcelana ter os olhos lindos e toda a gente lhe dizer que os olhos são lindos, se é a boneca de trapos que é levada para casa...?


4 comentários:

  1. Eu tinha inúmeras Emilia. E ficava horas a olhar para elas, lindas sempre lindas. Sempre "demais" para mim...Como eram mais fáceis as de trapos. Mas como te disse já quando crescemos os gostos refinam e um dia voltamos à loja e compramos as de porcelana. Abrimos as gavetas e deixamos que tenham um papel activo na nossa vida. Como são elas leais...

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  2. Gostei imenso do texto Emília. Mes-mo!

    Tenho várias... sempre gostei muito delas... mas é como dizes: as minhas estão em cima do guarda-fatos; um sítio robusto onde ninguém chega facilmente... não abana, logo não caem, não há riscos.
    Lindas, 'intocáveis',... mas ali, espectros de beleza.
    As de trapos ganham defesas... rasgam, mas volta-se a coser... - não fica igual, está lá o remendo, mas continua a ser boneca - .

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  3. Nunca tinha pensado nas analogias que se podem fazer com bonecas. Gostei muito de ler!!

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  4. eu tinha das duas bonecas e realmente tens razão, as de trapos têm outro encanto :'D

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