26.7.09

Morte de morrer

"Há metafisica bastante em não pensar em nada..."
...
e não pensar em nada engloba já uma enorme capacidade de pensamento. Não pensar em nada é fruto da estruturação dum pensamento mesmo que esse pensamento recaia em coisa nenhuma. Penso muitas vezes em nadas, aliás, faço-o a maior parte do meu tempo, ainda assim, os nadas em que penso, têm sempre para mim um valor essencial. Como o facto de pensar o bastante na minha própria morte, estou quase sempre com esta ideia no pensamento, talvez porque a ideia de morte me aterroriza dos pés à cabeça, e isto acontece desde que me lembro de ser gente, porque é mais ou menos desde essa altura que a ideia da minha morte me persegue (será isto sinal de que morrerei cedo?). Os caixões e as rendinhas e as flores e os cemitérios, todo esse enxoval de luto é para mim horrorífico, nunca achei poesia nenhuma em mortes e enterros, acho que há fases na adolescência em que isto tem uma certa piada, para mim nunca exerceu felicidade. Acho completamente ordinário o funeral rústico que se celebra, completamente desnecessário e sofredor, e que tenham isto em atenção, quando se tratar da minha morte, e espero que seja daqui a muitos mas muitos anos mesmo, não me metam (por favor!) dentro dum caixão com rendas, velas e flores, é um favor que vos peço, também não precisam de me queimar (odeio fogo), mas podem pôr-me num sitio bonito sem ter que ser trancada dentro dum caixão com claustrofobia, imaginem que volto à vida, como é que saio de lá? E também não percebo porquê que trancam os mortos de uma forma tão vigorosa, eles tão mortos, já não vão sair do caixão e desatar a correr... Isso de trancar caixões e meter cimento não é para mim, portanto não me façam um funeral rural, façam-me uma coisa com estilo.
Não sei porquê que estou a falar disto, visto que odeio este assunto, mas pronto, estou com a ideia da minha própria morte na cabeça, logo, terei de abordar outro tópico adjacente. Como será a vida das pessoas após a minha morte? Sempre quis (desde pequena) que o mundo se lembrasse de mim, até agora, ainda não arranjei forma nenhuma de o fazer, mas tenho em mim que por algum motivo conseguirei. O que mais me entristece é que o mundo, a menos que sejamos mesmo muito importantes, rapidamente se esquece dos mortos, já não fazem falta nenhuma (é por isto que nunca me suicidei, nem o tenciono fazer, já não bastava ter de morrer, morreria e numa semana já ninguém se lembrava de mim, mais vale continuar viva, ao menos sempre são obrigados a levar comigo, por muito que custe). O mundo rapidamente se esqueceria de mim, ou seja, ou causo mesmo um grande impacto na sociedade, ou a minha morte será mais uma em milhentas, e isto é que seria mesmo frustrante. Mas como estava a dizer, como seria a vida das pessoas após a sucumbissão da minha pessoa? Que fariam as pessoas? Chorariam, sorririam? Se calhar diziam "ah sim conhecia a miúda era um bocado passada e tinha um cabelo esquisito", "Morreu? Ah, coitadinha.", "Aquela puta de merda? Já foi tarde!", "A MINHA FILHA??", os meus pais se calhar nunca mais eram os mesmos... Mas como sempre as coisas passar-se-iam assim, na primeira hora toda a gente iria dizer o quanto eu era boa pessoa e sorridente, nunca tinha feito mal a uma mosca, ao fim do dia já andariam a contar todos os meus podres, porque isto é mesmo assim, sem tirar nem pôr. Primeiro morremos e somos as melhores pessoas de sempre, depois horas mais tarde já foi bem feita a nossa morte. Para mim qualquer morte nunca será bem feita, sou mais apologista do sofrimento, nos casos em que o ser em questão fez mesmo muito mal, por exemplo as penas de morte, sou completamente contra, deixai-os apodrecer na prisão, mas mata-los nunca, e também não concordo que matem as pessoas em coma, sabem lá se elas querem morrer? Ou sabem lá se elas não voltam à vida? (Se eu entrar em coma não me matem! (Qualquer coisa que me aconteça não me matem, por favor! Tenho tanto pavor à morte que estou quase a chorar com a ideia de vir a morrer um dia destes, ando apavorada com isto, literalmente!))... O meu ícone defunto é o Fernando Pessoa, esse é que por muitos anos que lhe passem continua sempre presente, mais a mais nos estudantes do décimo segundo ano, e também por ter uma estátua no chiado. Vai na volta o F.P. até se assemelha a mim, alguém disse que ele em vida tinha sido um fracassado, os planos nunca lhe bateram certo. Mas também, não me vale de nada levar a vida do F.P., e ser reconhecida depois de morta (as always?) jamais (em francês)! Ora bem, morro e o mundo esquece-se de mim, ou então sou infeliz em vida pra ser reconhecida em morta, ou nem uma coisa nem outra e tenho uma morte simples e ultrapassável como todos os outros defuntos que se prezem. Mas não, não quero ser só mais uma, vá lá. (Estou a escrever isto e estou mesmo a ficar deprimida com a conversa) Eu sei que sou um fracasso humano, não adianta escreverem coisas do tipo "não és nada", eu sei do que falo, se eu pudesse aniquilar a minha existência, te-lo-ia feito (não é suicidar-me, era não ter nascido), e isto é uma conversa deprimente, mas sejamos sinceros é a verdade, o que que eu na minha vida toda já fiz de bom? Melhor, o que que já fiz de bom aos outros? Dezoito anos depois, continuo o mesmo aglomerado de células sem nenhum acto heróico, à minha volta só vejo gente bem sucedida, e eu aqui ando, sem saber bem de onde vim, sem saber bem pra onde vou, mais do que isso, sem saber bem onde pertenço. O membro masculino da minha (pseudo)família chama-lhe "descaracterização de terra". Vejam bem, é que nem no nível mais básico do ser humano sou bem sucedida, a minha árvore genealógica está desaglomerada. Também não é importante vivo bem com isso. Depois uma coisa que realmente me enerva é os meus colegas (já universitários ou em vias de o serem) me perguntarem, "então e para que curso vais" ao que eu respondo, ao que eles perguntam: "e o que que vais fazer com isso?" (e quando a conversa chega a este ponto só me dá vontade de responder, Oh meu/minha grande FDP vou fazer o CQTF o que que tens a ver com a P da minha vida? Eu nem sei o que que almoço amanhã quanto mais o que que vou fazer com um curso que AINDA não tirei (nem entrei sequer)? Vai na volta mais depressa arranjo trabalho a fazer malabarismos do que tu a seres doutor/ra ou o raio que te parta!) Só me dá vontade de dizer como o T. "Mó put orientat deb!". Pessoalmente nem nunca gostei de futuros traçados, até porque dão sempre uma grande merda, e ainda mais me irritam os que os têm, ok, é certo que também é preciso algumas noções da realidade, mas será necessário uma lista completa e organizada de tudo? Não, não dá. Pra mim pelo menos não dá, e eu irei onde me levam os meus próprios passos, se der certo muito bem, se não der certo azar, de todo o mal que me pode e irá acontecer o que se leva são as experiências, e ser doutora é pra quê? Foder as pestanas e ficar dependente de red bull e café pra aguentar os calhamaços pra estudar? Oh meus amigos, a essencia da sabedoria não anda nos livros, se andasse seriamos todos prefeitos, para mim a essência andam onde os pés te levam, onde os olhos vêm, onde os ouvidos escutam, onde as mãos tocam, e onde a boca sente, muito resumidamente a sabedoria está na cabeça não está nos livros, mais se aprende vivendo que estudando, e esta ideia está completamente entranhada em mim. Portanto, posso nem conseguir acabar um curso de merda onde entrar, posso ter um ordenado de merda ou nem ter ordenado de todo, mas se conseguir ter a sabedoria dentro da cabeça, então não há canudo que me dê mais fortuna (e esta semana, dei-me ao luxo de conhecer a melhor pessoa do mundo que me fez ver isto) e tenho dito. E enfim... Sinto-me um bocado na merda a pressão também não ajuda (a todos os níveis) acredito fielmente ser mesmo um fracasso de pessoa...


(se alguém quiser a explicação das siglas acima referidas, posso pô-las posteriormente, obrigadinha.)

5 comentários:

  1. «para mim a essência anda onde os pés te levam, onde os olhos vêm, onde os ouvidos escutam, onde as mãos tocam, e onde a boca sente»
    *-*

    apaixonante.

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  2. oh Inês nem sabes o como te percebo, nem sabes... Ao ler a ultima parte do texto foi como me ler a mim própria (a primeira já não, porque sou muito fria em relação ao assunto da morte).
    digo-te a ti o que eu gosto que me digam a mim, faz o que gostas e caga-te para o resto é verdade que isso secalhar não de leva a lado nenhum, secalhar nem consegues arranjar um trabalho fixo com isso, mas who cares? desde que faças o que gostas és feliz e isso é importa!
    adoro-te pá e já tenho saudades*

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  3. E eu tenho muito pra falar contigo! Coisas que tenho de ir apontando num papel para nao me esquecer. Vou amanha para paredes por isso quando chegar vou ver se da para por tudo em pratinhos limpos 8D.
    Eu adorei o primeiroooo *-* mas tambem tou a gostar muito dos outros. A saga está mesmo :D

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  4. também não gosto do meu blog assim, mas não sei como o hei de por

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  5. Onde arranjei isso? xD

    ahhah parti-me a rir emilia. Aquilo foi uma mensagem que me enviaram. O rapazinho encontrei-o um dia perdido e desgovernado na praia e decidi acolhê-lo no coração.

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