2.10.09

Ruas, ruelas e pracetas.

esta cidade tem gente. esta cidade tem muita gente. gente demais por vezes gente de menos. de menos, são raras as vezes, gente é o que não falta. muitas vezes numa leve ocupação de espaço, mas isso pouco me importa. às vezes vou no metro, olhando nunca vendo, e reparo, nas pessoas, essa gente que passa, que eu vejo passar, todos os dias, a todas as horas, esses estranhos, mártires das suas próprias vidas, e depois, passando eu também, saio do metro na estação que me compete, e vou eu mesmo ser escrava da minha insignificante existência, agrupando-me nessa multidão de gente para quem olho em tom de crítica tantas vezes. inserindo-me nessa massa de gente humana que menosprezo, por serem assim e não de outra forma, mas se fossem doutra forma, olha-los-ia na mesma. e isto meus caros, passa-me a mim como a todos os outros, é maldade pura e dura, mas é assim que somos talhados, à luz duma imperfeição do mais perfeito que há. e então, chego a casa e nunca mais penso nas pessoas do metro, não me interessam, para nada me servem, continuo como quem quer continuar, e se me deitar, amanhã é um novo dia, em que apanho de novo o metro e vejo pessoas novas a fazer coisas iguais, chama-se rotina e há quem a leve sempre da mesma forma. eu, ou ainda não me habituei a esta vida citadina, ou os meus dias (abençoados) conseguem ser sempre diferentes, e ainda bem. são tantas as vezes em que passo na rua, como quem quer passar pelo vento, e olho em volta, vejo cimento, betão, sinto o dióxido de carbono e a confusão automóvel que passa por mim e não me vê nunca, então olho de novo e mesmo sentido as sensações diversas que este espaço me dá, sou incrédula relativamente a isto e ainda me custa a crer que estou de facto aqui, parece-me tanto que o balão rebentará como quem acorda dum sonho numa madrugada de trovoada. mas nem isso acontece, não acordo, e que sensação esta! mas esta cidade não é rosas, não é jardim nem flores, sabe-se lá o más que estas pessoas são? é terrível. e a beleza que eu encontro nisso? e o entusiasmo com que vejo estes novos dias em que vivo? mas nem sequer é isso, existe uma beleza triunfal nas ruas desta cidade, por todo o lado Fernando Pessoa, por todo o lado José Luís Peixoto, por todo o lado Arte de encontrões comigo, por todo lado tudo expirado ao mais mínimo detalhe, como te amo cidade.

1 comentário:

  1. sabes o que é bom numa cidade cheia de gente, como lisboa? é isso mesmo, a gente, as pessoas, é o melhor que há em lisboa, é o melhor que há em todo o lado, em Faro acabas por ver caras repetidas por vezes, mas em Lisboa acho que não.. e é tão bom, eu adoro quando ando de autocarro (e tenho andado tanto, infelizmente), quando estou numa esplanada ou mesmo num centro comercial, adoro reparar nas pessoas, na maneira de vestir, nos sapatos, nas expressões.. algumas das pessoas, depois, esqueço-me, mas outras lembro-me ou porque me inspiraram para alguma coisa, ou porque achei interessante algumas das expressões das pessoas, porque as achei bonitas, feias ou simplesmente interessantes, enfim há umas que vão outras que ficam. mas é lindo reparar nas pessoas, eu adoro.
    e outra coisa a beleza que encontras ai não é terrível, é lindo, porque o mundo é feito de beleza em todo o lado, como dizem no American Beauty: "Sometimes there's so much beauty in the world I feel like I can't take it, like my heart's going to cave in."
    :) <3

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