2.1.10

Overdose


Obrigada.
Tenho estado para te escrever uma carta de amor, mas já o mestre dizia, as cartas de amor são ridículas. E eu não quero parecer ridícula escrevendo-te uma carta de amor. Não é que ache as cartas ridículas, mas talvez o amor o seja. De uma forma qualquer, eu amo-te. Com alma. Comecei a amar-te ainda sem saber o que eras, ainda com a noção um pouco turva daquilo que significavas, mas pouco a pouco este amor cresceu. Hoje para além de te amar, expiro-te, levando-te ao expoente máximo da loucura, tens em mim uma significação tão essencial que existir longe de ti já não faz sentido nenhum. E eu quero ter sentidos, contigo. Amo-te de um amor tão cá de dentro, tão puro, tão poético, tão próprio. Amo-te desde que te senti o cheiro, desde que te encontrei o rasto, desde que me descobri em ti e contigo me tornei isto que hoje sou, isto que hoje me fizeste e fazes ser. Amo-te porque és tu, porque sou eu. E tenho em mim que ninguém te ama como eu, porque eu amo-te com os olhos, com as mãos, com os pés, com a boca, com o corpo. Eu amo-te na forma mais pura que tenho de amor, na forma mais básica de amar, amo-te porque sim. Criaste em mim sonhos e ilusões, e como sonhos e ilusões que são podem ser impossíveis ou podem ser possíveis. O destino que tens e que eu tenho por junção a ti é extraordinariamente imperceptível e incerto, mas no entanto só te tenho a agradecer. Sei que se o meu castelo encantado desmoronar tu talvez não me abraces, talvez não me seques as lágrimas, talvez não apanhes os estilhaços que caírem no chão, mas sei que se o meu castelo encantado cair o teu chão terá sempre espaço para a construção de um castelo novo. Eu amo-te. E talvez no teu interior tu saibas que eu te amo, e talvez no topo da tua magnificência tu tenhas isso vincado, e talvez tenhas um espaço para mim dentro de ti. Contudo, independentemente disso, amo-te na mesma. Amo-te porque és um caminho, porque és uma estrada, porque és uma rua, és uma casa, uma pessoa, um cão vadio, um sem-abrigo que dorme na noite mais escura, porque és uma multidão de gente, porque és futuro, presente e passado. E mesmo que não sejas o meu futuro, ou mesmo que me excluas do teu corpo inerte de alcatrão, serás sempre Lisboa a cidade onde me perco para me encontrar...

5 comentários:

  1. esse amor é tão lindo, amar na forma mas pura, na forma mais básica, como tu dizes, é, na minha opinião, como se deve amar, é assim que faz sentido.
    e aposto que há sempre lugar para ti, porque quem ama assim, como tu, merece tudo!

    (continou a achar que devias mandar os teus textos para uma sitio qualquer, são tão magnificos, que toda a gente devia le-los.)
    <3

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  2. ' Hoje para além de te amar, expiro-te, levando-te ao expoente máximo da loucura, tens em mim uma significação tão essencial que existir longe de ti já não faz sentido nenhum. E eu quero ter sentidos, contigo '

    olha, eu senti isto tão, mas tão bem.

    lindo! é o que te consigo dizer.
    beijinho*

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  3. Continuas a gostar muito de Lisboa. :)
    E posso dizer uma coisinha? Estás apaixonada.
    Sabes, quando falaste do castelo a desmornar-se eu consegui ver a imagem na minha cabeça. (E que imagem...)
    Gostei muito, minha Emília Apaixonada.
    (Ahahahah, no teu comentário adorei a parte do 'e isto não é metáfora nenhuma'.)

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  4. Eterna cidade encantada, eterno amor com traços do vigor adolescente. Adorei*

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  5. Minha princesa de castelos erguidos nas brumas esplendorosas da imaginação, és doce em forma de nevoeiro, escorregadia ao tacto, escoas(-te) como areia mão abaixo, leito de rio corrente, admirável ao primeiro olhar, canção ecoada ao ouvido sentida lá no âmago dos grandes corações.
    Tu és tu e já há muito tempo (a)

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