1.4.10

Ala da Vanguarda

Pensava inda agora nas vezes que já fui feliz. Foram tantas! E todas elas gravadas em mim como uma marca talhada na madeira. Ao pensar nisto, pensei em que circunstâncias foram essas vezes. Concluí então que a maior parte da minha felicidade ocorre quando estou com um lenço ao peito e uma mochila às costas.

É difícil expor por palavras a vida em campo, explicar, escrever, tentar gravar as memórias num arquivo é praticamente impossível, pois estas memórias de liberdade, de serviço, de comunidade são quase inexplicáveis.
Existe uma força maior do que qualquer coisa que move os nossos passos, que move as nossas pernas bambas e as nossas bolhas nos pés quando já estamos quase no fim do Hike e pensamos não ter forças para continuar, quando sabemos que já não temos força para continuar, mas damos connosco no último passo do percurso. E então pensamos: "como foi possível?" E ninguém sabe como é possível que isto aconteça, mas é possível, pois acontece sempre. E mesmo quando já a farda está desbotada de tanto raid, de tanta noite dormida com um saco-de-cama, de tanta comida à escuteiro, há sempre esta força, que eu não sei o que é que diz, sempre; continua, segue, vai; faz deste mundo um lugar melhor do que o que encontraste.
E nós seguimos sempre, vamos sempre, fazemos sempre, por um dia, por três, por uma semana, por quanto tempo for, porque sabemos que cada noite é única, e cada momento irrepetível, e cada pessoa será sempre uma única pessoa na nossa vida, que nos ensina, move e transforma, mesmo que nunca nos tenha dito nada, mesmo que nunca a tenhamos conhecido.
A IV afigura-se agora uma enorme aventura, uma das quais que eu pensava não estar preparada, agora, não sei se estou preparada, mas sei que me sinto bem aqui, e é aqui que quero estar. O futuro lenço vermelho já não me assusta tanto, já não me dói o abandono do passado, porque vejo-me finalmente a abraçar o futuro, a beber o presente como bebi aqui e a ser sempre como sempre fui. É maravilhoso o calor dos outros, o amor e a vontade. Enche-me o peito estar com Escuteiros, com essas pessoas que eu sei que são movidas pela mesma força que eu sou, com estes (como alguém me disse) companheiros das mais marcantes aventuras, irmãos e amigos para a vida. E é grande quando no meio de uma roda de lenços vermelhos com barquinhos, se nota um azul com árabes e mouros, e é grande quando este é recebido de braços abertos e um sorriso na cara. Em Idanha senti-me em casa, principalmente quando dormirmos debaixo do céu, sentido a brisa fria da noite na nossa pele, ou as ervas por baixo de nós, no que podíamos ter de mais próximo com a mãe terra. A lua nessa noite estava cheia, nós também.

Ser-se escuteiro, é ser-se aqui, ou ali, ou em qualquer lado, mas tendo sempre vincado que estaremos "sempre alerta para servir".



III Acanuc - Núcleo Moinhos de Vento
Idanha-a-Nova 2010
Clã 18 Agrupamento 69

8 comentários:

  1. A imagem é da autoria da pessoa de quem eu falo, para quem eu escrevi.
    O meu mais importante de tudo. :)
    É bonita, não é?

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  2. É, realmente, tudo isso que disseste.
    Também és escuteira?

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  3. Olá.

    Vim parar ao teu blog, com a ajuda da Carla e sinceramente gostei muito. Acho que tens um dom natural para escrever e sente-se que cada palavra tua é escrita com um significado para ti.

    Tendo em conta que também gosto de escrever (o que sai sempre pomposamente digas como disseres) decidi dedicar-me à pesca depois de ler o teu blog.

    Continua a escrever! Continua a lutar.

    Quanto ao post...gostei claro. Também sou escuteiro, mesmo que há pouco tempo e sei o que é isso. Quando estamos naquela farda, todo o resto do mundo e desaparece.
    Vais ao Jamboree?

    Bem, um abraço de um novo "seguidor".

    Eurico Graça

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  4. Olá novo seguidor!
    É com muito gosto que te recebo aqui, como se da minha própria casa se tratasse (e de certa forma até é...) Gostei e gosto muito que tivesses gostado e gostes de vir aqui e ler-me nas palavras.
    E embora nunca tenha lido nada teu, presumo que nunca te deves deicar à pesca, pois quando metemos a alma nas palavras elas nunca saem mal. Continua, Continua, Continua! É um orgulho para mim puder alegrar além com a minha escrita!
    Um beijinho.

    P.s.- Não vou ao Jamboree :| (és de que agrupamento?)

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  5. Eu não. Mas duas das minhas grandes grandes amigas são.

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  6. É mesmo. Tem um ambiente muito bom.

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  7. Olá :D

    É um prazer então estar na tua casa.
    1324 Sé !

    Logo peço à carla para te mostrar um trabalho meu ;).
    Beijinho.
    EG

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  8. Minha querida. Que saudades =')

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