29.7.10

valencia

musique. a vida precisa de musique e tudo fica resolvido. deixemos assim, não faz mal, está tudo bem. é verão, e a vida soa a brisa fresca vinda do mar. soa a praias do sul, e a conchas e corais e navios e gaivotas e peixes aranha. a vida cheira a ar condicionado nos centros comerciais que é ainda onde está fresco. a vida cheira a bebidas com gelo ao fim da tarde num ponto alto a apreciar a cidade. a vida cheira a cidade, e as livrarias escondidas entre a literatura francesa e os génios literários vendidos a dois euros, porque ninguém quer livros com folhas comidas. a vida cheira a vida nocturna as três da manhã num beco qualquer, entre as cordas duma guitarra e as cordas duma goela qualquer. a vida cheira a moda citadina e a chinelos de dedo. a vida cheira a fogueiras pela noite dentro e a chouriça assada em espetos de pau. a vida cheira a trabalhos de verão nos bares da praia, e a turistas. a vida cheira a turistas, os que passam e os que ficam. a vida cheira a pessoas, boas e más, nobres e vis. a vida cheira a portas e janelas abertas, e a portas e janelas fechadas, na negação ou na afirmação de outras identidades. a vida cheira a manjericão e a rosmaninho e chá de lavanda na varanda duma construção pombalina. a vida cheira a música, e a filosofias ao fundo da escada. a vida cheira a arte e à tentativa de pôr a vida toda dentro duma mala de viagem. a vida cheira a chegadas e a partidas e a idas e a voltas. a vida cheira a imensidão, sorrisos e a lágrimas, e a escritores. tantas vezes a vida cheira a palavras. e a sol, e a água. a vida cheira a água, água fresca no quintal da casa que não tenho. a vida cheira a música, a música. porque tudo está bem, porque existe música dentro dos meus ouvidos e na minha cabeça, tenho música no pensamento e na emoção, e então, tudo está bem, e eu estou bem, obrigada.


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