30.7.10

The Fucking End.

(...)
- Então, era o quê, que nós tínhamos combinado?
- Era a discussão do trabalho Professor.
- E era para hoje não era?
- Pois, eu estou à sua espera há 3 horas.
- Oh I. peço imensa desculpa, é que sabe, eu fui levar uma injecção e estou a ficar zonzo, e com este calor vai ser um perigo pegar no carro, já imaginou?
- Pois, eu compreendo. Mas então como é que fica a minha nota? É que eu vou-me embora dentro de dois dias.
- Oh I. não se preeocupe, não percisa discutir o trabalho eu já lhe dei uma nota no trabalho, é com essa que fica na cadeira.
- Ah sim? E que nota é?
- Olhe, então eu no trabalho dei-lhe dezasseis.
- (silêncio)
- Está ai I.?
- Desculpe, não percebi o que disse, deu-me que nota professor?
- Eu disse que lhe dei dezasseis.
- Dezasseis?! (boquiaberta)
- Sim, sim. Um dezasseis, ta a ver? Um 1 e um 6; dezasseis (16).
- (boquiaberta-sem-reacção) Um dezasseis no trabalho?
- Sim, mas fica com dezasseis na cadeira também, como nota final.
- (tentando recuperar do choque) Oh. Estou a ver, bem, hum, então obrigada Professor e as melhoras.
- Ora de nada I. fique bem, boas férias.

(ouve-se o impulso do outro lado da linha, I. mete o auscultador em baixo e olha para a senhora do departamento de Filosofia enquando esta acabava o seu iogurte e dava indicações a outro aluno, I. saltou uma vez, gesticulou, conteu a voz e disse em voz empolgadamente baixa)
- ele deu-me um 16! -
(A senhora do departamento de Filosofia sorriu) - Ahhh! vês, eu bem te disse que era melhor telefonares! Depois pagas-me um cafezinho! (risos)
- Até lhe ofereço o jantar na minha casa!
- Ora deixa lá, só quero um cafézinho, vai-te lá embora miúda, vá, boas férias, diverte-te!

I. saiu pela porta da faculdade com aquele tipo de sorriso de quem viu um pássaro azul, que sempre odiou ver nas caras dos mortais, mas sabia bem, foi o primeiro dezasseis académico, e um dezasseis académico faz-nos sentir uma espécie de deuses. Depois de muito café, muito puxão de cabelo, e muitas canetas a bater no chão, até sabe bem ouvir o nome Foucault e a História da Loucura.

Nove meses, dez cadeiras, uma cidade encantada.





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