18.8.10

Cornucópias

duas da manhã e a tralha em cima da cama. Tenho perguiça. Não me aptece mexer a ponta de um corno. nem uma nem duas vezes, nem vez nenhuma. não me aptece mexer na vida. se fosse por mim, levava-me apenas e deixava o resto para trás, para quê levar as coisas? todas as coisas? eh. enchimentos, ocupações de espaços, mundanidades. a esta altura dava os céus para voltar à montanha, para dormir novamente sobre a terra e sentir os barulhos da noite, a esta altura, pouco me importam as malas, apenas queria a viagem, outra vez. por mais que os trinta quilómetros custassem a subir, por mais que o pé me doesse, por mais que a febre estivesse alta, faria tudo de novo e nem pensava duas vezes.
e em vez disso, cá ando eu, a empacotar a vida, novamente (quantas vezes faço isto por ano?), e há sempre algo que fica, algo que não vem ou não vai, e para quê? a vida finda-se nas nossas mãos, que fazemos com o plástico que nos ilustra a existência? deitem-no fora, não vos serve de nada, nem aqui, nem em parte nenhuma. E seremos bem mais felizes.
Sinto-me dona de mim, porque tive a montanha, e o céu, e as estrelas, e a terra, e o ar. Sinto-me dona de mim porque respirei onde o sol aquece as grandes almas. e agora toda esta realidade não faz sentido. nenhum sentido. há sal nos homens.

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