7.8.10

plim, plam, plum.

quando estamos bem estamos mal, quando estamos mal, estamos mesmo mal. quando estamos sentados achamos melhor se estivermos de pé, mas quando estamos de pé dóiem-nos as pernas. quando pesamos 55 kg estamos gordas, mas se pesarmos 63 kg comemos uma caixa de gelados. se temos o cabelo espigado cortamo-lo, mas depois de curto o cabelo da bandida ao nosso lado é bem mais luminoso e comprido que o nosso. passamos horas em frente ao armário a escolher a roupa adequada para ir a tal sítio, e quando lá chegamos reparamos sempre que a roupa não é a melhor. compramos os sapatos de salto alto que namorámos há mais de um mês mas depois não temos ocasião para os usar e o mesmo acontece com os vestidos. queremos ser todas princesas como nos ensinaram quando eramos pequenas, mas esquecemo-nos que os príncipes encantados já perderam há muito o encanto e os cavalos brancos já só existem em maquete. esquecemo-nos que a vida aos seis anos é feita de pó de fadas que a sininho nos mete em cima, mas depois já não temos altura para voar até à terra do nunca e o peter pan não nos vem bater à janela, nem o peter pan nem o príncipe encantado, embora sempre nos tenham feito adormecer a sonhar com eles, contudo ninguém nos disse que ao acordar eles se dissipavam. presumo que fosse bem mais dificil encarar a realidade sem estas historietas de encantar, que perdem o encanto a meio da adolescência mas nos permitem até ao fim da existência dormir com uma réstia de esperança ao fundo da cama. quem é que não deseja desesperadamente um barco que voa ou os meninos perdidos? quem é que não quer que venha alguém bater-lhe à porta com um sapato perdido na mão? quem é que é a miúda que não gostava que lhe atirassem uma pedra à janela as duas da manhã e a levasse a passear pelo jardim? (...) a diferença é que aos seis anos independentemente de termos meio metro tudo isto tende a ser possível, a imaginação não conhece limites, e pode mesmo aparecer o peter pan e podemos mesmo voar com ele... ainda ontem presenciei a maravilhosa transformação duma caixa de papel desprovida de qualquer encanto, num cofre mágico guardado por um feitiço qualquer. assim é. aos seis anos não há limites. aos vinte já há. limites à felicidade. não compreendo. e se me apetecer tomar chá com as bonecas, não posso? e se me aptetecer de facto adormecer todos os dias à janela para ver o peter pan? e se for viver na montanha com os ursos? e se... nos esquecessemos um pouco das mundanidades e fossemos todos um bocadinho mais livres de espírito e partissemos do princípido do que nos faz viver aqui? e se fossemos todos um pouco mais humanos, mais amigos, mais fiéis, mais Homens, mais justos, mais sérios, mais inteligentes? dizia uma vez almada negreiros "O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem, Portugueses, só vos faltam as qualidades." agora lembro-me dos nossos carissímos irmãos franceses; Liberté, Egalité, Fraternité... as àrvores ainda fazem bastante falta, os livros também se forem relevantes, os filhos, fica ao critério, mas já há quem se queixe do grande crescimento demográfico... e para que querem mais princesas com vestidos rotos daqui a uns anos? Não nos esfaqueiem mais as utopias, se faz favor.
Agradecida.

4 comentários:

  1. este veio muito do espirito inquieto ah, e beliscado. sim, veio daí. Compreendi muito bem. E gostei claro, claro que gostei. ^)

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  2. two thumbs up, emília

    Paris é maravilhosa, apaixonei-me por completo

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  3. olha, um dos melhores textos que já li, adorei *

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  4. bem dito. "e se... nos esquecêssemos um pouco das mundanidades e fossemos todos um bocadinho mais livres de espírito e partíssemos do princípido do que nos faz viver aqui? e se fossemos todos um pouco mais humanos, mais amigos, mais fiéis, mais Homens, mais justos, mais sérios, mais inteligentes?": exactamente e nem mais. é isto mesmo.

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