estou aqui.
eu estou aqui.
a ser aventureira,
a cometer riscos,
a exceder limites
a engrandecer horizontes,
a crescer por dentro.
eu estou aqui,
a enfrentar os dias com bravura.
estou aqui
sendo muito firme,
muito corajosa,
muito eu.
(e tu estás ai, como que estendendo o esqueleto no sofá,
e nunca hás-de ser nada, nunca nada, nunca coisa nenhuma.
porque não vives, não sonhas, não voas.
Então voa, e deixa o mundo relativamente real,
incumensuravelmente certo,
deixa a segurança do sofá e faz-te à estrada.
Qual é a vida que queres?
escolhe, tens todas à tua frente.
Mas sai do sofá. Sai do porto de abrigo e vai sofrer um bocadinho.
Vai sofrer o mundo, e vai viver, e vai ser feliz.
Vai ser feliz!
E vai fazer torradas. Vai fazer torradas.
São boas quando se quer sonhar.
e come chocolates.
Come todos os chocolates
e depois sorri.
não há maior alegria que comer chocolates
às portas da meia noite.
e agora, faz-te tu, e diz adeus,
como eu disse adeus,
não como eu
mas como tu.
e tem medo, mas tem equilíbrio,
percisas de equílibro, para meter um pé (sempre) à frente do outro.
eu estou aqui.
a ser muito muitas coisas.
e depois, à noite, quando chego a casa,
já cansada, já sonolenta, já rendida,
e quando há dias em começa a chover,
e eu não sei se são lágrimas ou é a chuva,
e chego a casa e jogo o corpo para cima da cama
e penso em dormir, mas não durmo,
e depois penso: para quê ter a vida ali à frente da
janela, e aguentar a dor de umas cortinas douradas?
e depois dói cá dentro, não pelas cortinas,
mas por estar já longe de muitas palavras
e depois, quando chego a casa, e dói lá dentro,
e eu grito e tu não me ouves,
porque não me ouves, e eu fico a olhar para
estas cortinas pavorosas que me acordam todas
as manhãs num tom dourado, e penso,
o quão feliz sou.
e depois, nesses dias em que chego a casa
já dorida de mim e do tempo
que corre devagar,
a máscara cai
redonda no chão.
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