23.11.10


E agora sou eu que grito que a noite é minha, e que o sangue já secou por inteiro, e o meu corpo é belo como uma escultura cheia de cicatrizes de ti, mas nem isso mais me importa. Olho-me ao espero e abraço-me o corpo, para não me esquecer que estou viva, mesmo depois de ti, mesmo depois do mundo, olho-me ao espelho e beijo-me a pele, para lembrar que me amo, que me amo tanto, mais do que tu alguma vez me amaste, olho-me ao espelho e toco-me o rosto para não me esquecer que tenho uns olhos maravilhosos que conseguem olhar perfeitamente o mundo e vê-lo com nitidez, um mundo do qual tu nunca mais farás parte. Olho-me ao espelho e alegro-me, por ser apenas eu, nua de todos os teus tus, despida de todas as tuas farsas, limpa de todos os teus enganos de alma. Olho-me ao espelho e reparo com nitidez naquilo que me tornaste, e sou uma peça de arte; o meu corpo é esculpido de cicatrizes lindas, de marcas maravilhosas entranhadas na pele que é minha, olho-me ao espelho e vejo-me resplandecente do alto do meu pedestal talhado de quantos sonhos tenho, olho-me ao espelho e felicito-me e digo-me com certeza que sou a maior, pois estou aqui e estar aqui a olhar-me ao espelho e a ver-me não só por dentro como por fora é a maior vitória de todas. Olho-me ao espelho e já não tenho medo do que vejo, pois o que vejo sou eu, e eu sou o conjunto de tudo o que vivi, ora nobre ora vil, olho-me ao espelho e já não me assustam as lembranças do passado, olho-me ao espero e sorrio-te inesgotavelmente porque te amei tanto, mas porque me amo muito mais a mim.

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