17.11.10

pois é, e a vidinha está a ficar agitada.
(...) e então acordei já apressada para ir falar com o professor de cinema, o autocarro como é natural, demorou mais do que o previsto, demora sempre. e eu cheguei glamorosamente atrasada, de novo. entrei e automaticamente desculpei-me à toa, o velhote sorriu-me e disse "ora, não há problema, são só cinco minutos" mas como eu sempre ouvi falar na pontualidade britânica, coisa que já constatei ser verdade, entro sempre num pânico a cair para o dramático nestas alturas. e bonito foi termos conversado, eu e o meu professor de cinema, conversamos, em vez de falar, e isso encheu-me de júbilo. - Sabe, não me deve tratar por Professor, chame-me Stephen, que é como se deve chamar os professores, pelo nome. desculpei-me, dizendo que me havia habituado desde sempre a tratar os professores por Professor, e ainda mais na universidade. esquecemos o assunto e quase findada a conversa oiço dizer - olhe Inês é verdade que estamos todos muito contentes por a ter aqui, é muito importante para os seus colegas e para nós podermos ter a oportunidade de conviver com uma aluna estrangeira, e como viu ontem na aula quando me falou nas flappers os seus colegas nem faziam ideia do que era uma flapper, e eles são britânicos, fico mesmo muito contente por estar connosco. Agradeci e corri para a biblioteca tentar por milagre achar a infindável lista de livros que ele me ordenou. tarefa impossível pensei, depois de um bom bocado percorrendo as infindáveis estantes de cinema da biblioteca, poisei o corpo já rendido na cadeira e mentalmente pedi inspiração a alguma força maior, aquando disto, heis que me aparece um senhor já distante da juventude mas com um ar encantadoramente simpático a quem eu supliquei ajuda imediatamente, riu-se com aquele ar de quem me pensou jovem de mais para viver, e cordialmente disse-me: posso levar a listinha? - faça favor! respondi, e mentalmente agradeci à força maior por me ter posto aquele santo à frente. nem 20 minutos haviam passado quando me chega o pobre homem com os braços cheios de livros, exactamente os mesmos da listinha, naquele momento apeteceu-me dar-lhe um abraço e agradecer-lhe por estar vivo e de boa saúde, espero. claro que imprimir alguma coisa ali é simplesmente impossível mas não desistindo desta ideia corri o campus para conseguir o código da impressão, tal é a modernisse, muito pouco prática mas pronto, é moderno. como é óbvio não cheguei a tempo, e no entertanto da correria o telemóvel toca, era a minha colega de teatro, a Olivia: o Josh vai fazer uma imporvisação agora queres ir ver? eu espero por ti à porta do edifício de humanidades, não sabes onde é a sala pois não? - claro que não sabia onde era a sala, eu nunca sei onde é nada, mas ia ver o Josh claro que ia, e disse-lhe que esperasse enquanto eu, feita super-herói, arrastava rapidamente o esqueleto até ao dito lugar. entrámos, lá estava o Josh, o Josh e o Antonny, a servir chá e café, antes de começar a encenação, ouvi um grande "olá Inês" vindo do Antonny e um admirado "Inês tu vieste!" do Josh, o Josh tem piada, é hilariantemente inglês, mas um tipo de inglês muito de bons modos o que me agrada imenso e portanto conversar com ele é uma tarefa pouco dura. Sentei-me com o meu café servido pelos rapazes a aquecer-me as mãos quando alguém me sussura ao ouvido "Inês!" quase que salto da cadeira, olhei para trás e vi a cara da minha professora de teatro de rua, a Susan, que me diz: "Inês, ainda bem que te encontro aqui, na verdade preciso de falar contigo, porque eu tenho aqui uns estudantes e professores da américa do sul que vieram dar umas conferências, e eu falhei-lhes de ti e então eles perguntaram-me se te importavas de lhes falar sobre a tua experiência na universidade e como tem estado a correr tudo isto, se quiseres claro" queria, claro que queria, disse que sim, e ela esganou um sorriso de como quem gostou da resposta. afinal eu gosto de conhecer pessoas novas. sentei-me e vi a peça dos meus colegas com entusiasmo, não era uma peça, era afinal, só um filme sobre o trabalho que desenvolveram até aqui, performances que fizeram na rua que filmaram e estavam agora a mostrar-nos a reacção das pessoas, acabou o filme e fez-se uma roda de cadeiras, estavam presentes entidades grandes, que depois deram a sua sábia opinião sobre o assunto, e eles lá iam escrevendo o que achavam melhor não esquecer, e rabiscaram notas e mais notas, não me atrevi a abrir a boca, tal era a qualidade da opinião dos mais velhos, mas fiquei atenta ao que se disse. assim que o encontro acabou despedi-me dos meus colegas Antonny, até sexta e Josh, até segunda, e segui com a Olivia para o Arts Center, hoje era noite de Teatro, a Olivia acompanhou-me na conversa enquanto esperava por uma amiga, falamos sobre nada de grande interesse, simpatizo com a Olivia, é porreira, inglesa de Londres, mas com todas as características de uma alemã desbocada e livre, acho-lhe piada e é uma boa companhia nos tempos mortos. a amiga chegou e as duas foram indo e eu que detesto ficar sentada, sozinha, na mesa de café quando não estou a fazer nada, levantei-me muito corajosamente com os livros e o computador e todas as coisas que as miúdas têm a puta da mania de pôr dentro das malas que para além de não terem utilidade nenhuma, só fazem peso, e portanto compreendia perfeitamente a minha dor de costas. ainda assim, muito na minha pose fui directa à loja dos discos, deambulei-me por lá e depois de tudo ver reparei que tinha nas mãos um CD da Nina Simone e outro do Mozart, nem sequer me questionei sobre aquilo, desloquei-me à caixa e simplesmente paguei pelos CD's e fui-me embora. e o telefone toca, era a Julia, colega de casa alemã: "sempre vais ao teatro, estamos a chegar, podemos ir juntas se quiseres." podemos ir juntas sim, respondi, e esperei, chegaram; ela e uma amiga, mostraram-me os bilhetes e perguntaram-me qual era a minha fila, não fazia ideia, ao ver o meu bilhete apercebemo-nos de que estávamos exactamente na mesma fila, exactamente ao lado uma da outra, e a piada foi que nem sequer comprámos o bilhete juntas. Seguimos para a sala, sala bonita pensei, e a peça começou, o que senti lá dentro é uma outra história. findada a peça corri para apanhar o próximo autocarro, demorou não muito tempo, e quando entro gelada reparo que quem o conduzia era o meu "amigo motorista", há um motorista já no alto dos seus 50 e tal anos, que me sorri sempre quando eu entro no autocarro, mas não é um sorriso qualquer é um Sorriso, e assim que o vi, resplandeci a minha alegria toda no gesto de sorrir também e disse alegremente: "Oláaaa! Como está?" ao que me responde "Oláaaa! desejo-te uma boa viagem". a viagem acaba e à saída agradeço como se me apetecesse abraçar aquele homenzinho com o seu típico gorro a esconder o frio da cabeça, e ele responde-me num dos melhores Obrigados que a gente me diz, e eu saio felicíssima esperando pela próxima viagem no autocarro do senhor do gorro de inverno, e nesses momentos, sinto-me com o dia ganho, tal é a força daquele sorriso que me aquece o coração nem sei bem porquê. e assim que chego a casa, faço um chá e ponho-me a escrever, e penso que escrever é bom e o chá também.

3 comentários:

  1. oh deus. que texto mais lindo. quando cheguei ao fim do texto imaginei-me a mudar a página dum livro e na outra página estar outra história, outro conto, outra aventura.

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  2. muito obrigada, mesmo.. fico enternecida.
    ohh mas é óptimo à mesma, quem me dera

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