3.11.10

a tua voz ecoar-me-há sempre na memória, na tua forma única de me chamar. O teu sorriso acontecerá sempre na penumbra do meu, para me recordar que me mantenho viva. Não te perdoarei nunca por todas as noites que me fizeste adormecer a chorar, por toda a energia que me consumiste, por tudo o que levaste de mim até quando já não havia mais nada para levar. Como uma vela que arde até ao fim, e até no fim mantém a chama acesa até se findar por completo. Apagaste a vela antes do fim, e levaste-a contigo. E não te perdoou o coração que me roubaste, e a flor da amendoeira que mataste para me dar, quando me querias dar até o mundo, até as estrelas, até os sonhos. Nunca te vou perdoar nada, nem esquecer nada, nem apagar nada. e a dizer, quanto é o tempo para nos findarmos um ao outro de uma vez por todas? Mesmo longe, mesmo cegos, mesmo outros. Levaste-me até onde te permitiste, e deixaste-me onde a tua consciência te mandou. E nesse dia consegui sufocar-me de tanto que doeu a travessia desse mar, desses barcos que passavam e que eu via, desse ser-se que eras que já não era nada. E o virar costas foi a tua maneira de me deixar, melhor, disseste. Nunca percebi esse "melhor" em que me deixaste, nem esse ultimo beijo cheio de sonhos fracassados, e de um quase final feliz. Qual foi a corda que se partiu antes da última amarração? Nunca te vou perdoar a morte na praia, dessa praia para onde foste, e onde me prometeste a ida, nunca te vou perdoar a festa que nunca aconteceu e o vestido que nunca vesti, e o resto de tudo. Nunca te vou perdoar teres feito de mim a pessoa mais feliz do mundo de todas as vezes que me deste a mão e que estavas lá e que falavas e que rias e que cantavas e que tocavas guitarra e que viamos a noite em cima de nós e que me fazias viver o conto de fadas mais maravilhoso de todos. Nunca te vou perdoar, teres-me sido tanto e agora não me seres nada, nunca mais nada, nunca mais coisa nenhuma. E é por isto se escreveu a mais fantástica literatura, e se criaram os mais maravilhosos escritores, e se fez a mais encantadora música, e se inventaram as mais belas obras de arte, por este vazio, por este oco, por estas lágrimas, por este abandono, por este sentimento que ninguém sabe o que é que chega a doer tanto que não pode doer mais. Por isto nasce a inspiração, por este amor que nos embala e nos faz morrer tanto, como eu morro agora , desde a altura em tu me mataste, de amores.

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