3.1.11

passaram os cabelos; passaram os cortes, as cores, a revolta exterior. iniciou-se a crise silenciosa. sabes o que digo? já pouco escrevo. e agora olho para a minha própria fotografia e o que vejo é um rosto pálido, um sorriso ausente. muito ausente de tudos, sabes? estou vencida "como se soubesse a verdade", eu sei muitas verdades e elas custam muito a passar. amanhã vais trabalhar, e eu vou trabalhar, e seremos mulheres de um tempo que nos fez e nos faz. amanhã não vamos trabalhar porque não temos trabalho, porque nos prezam a juventude, porque não temos vidas, porque somos ainda protótipos em desenvolvimento para que daqui a uns anos alguém ganhe dinheiro connosco. amanhã não vamos trabalhar porque não temos trabalho, porque não produzimos, somos somente um produto em produção, amanhã nada vai mudar sabes? e hoje foi um dia de choros. tentei fazer-me de forte, mas quando estávamos no café, ao abrir a boca as lágrimas começaram-me a correr. e tu bem sabes que eu não sou de choros, nunca fui. e então que me aconteceu? dei parte fraca? não, simplesmente dei parte humana. sabes? chega de me fazer de forte, de engolir mágoas, de engolir lágrimas, de cerrar os dentes e dizer não vou chorar, porque eu não choro. sabes que mais? eu choro. e choro muito, mas acontece que quase sempre choro sem lágrimas, choro por dentro, mas tenho-me vindo a aperceber que chorar por dentro custa mais, hoje, chorei por fora, e depois abraçaram-me, e limparam-me as lágrimas e disseram-me que tudo ia correr bem. e às vezes não corre nada bem, mas ao menos alguém me limpa as lágrimas, e chorar acompanhado soube melhor sabes? e qual é o problema? esta é a minha parte fraca, está aqui, está à mostra, está em carne viva e não preciso de curativos, não preciso de ligaduras, preciso de ar fresco sabes? aquele ar fresco que não sinto desde que aqui cheguei, que as paredes com bolor do meu quarto me roubaram. preciso do ar de algum lugar que me diga que sou bem vinda e que me mostre algum calor e que me abrace com esperanças, que me preencha. sabes que mais? falhei, falhei redondamente, sim, falhei, falhei, falhei, e hoje aqui tenho o grande produto do meu próprio e único e grande falhanço, esta fraca vontade de existir. falhei em tudo, falhou-me o início, falhou-me o desenvolvimento, até a viagem me falhou e depois comecei a chorar que nem uma perdida porque falhei-me a mim própria. e amanhã nenhuma de nós vai trabalhar, tu não vais porque não tens trabalho e eu não vou porque não tenho trabalho. sabes?

2 comentários:

  1. finalmente vou puder comentar.
    e as lágrimas voltam a visitar os meus olhos pela milionésima vez esta noite e sabe bem, tens razão.
    sei que não é esse lugar que te vai tirar a vontade de coisa alguma. porque sei que quando for esperar por ti, o que aí ficou adormecido vai despertar e será mais forte que a força mais forte da natureza. porque tu és grande e pequena e pequena e grande e enorme e gigante. porque com tanta terra que nos separa ainda me tocas e me dás força e alegria. e tenho um aperto no coração por saber que esse país não reconheça a força que és, o ser único e maravilhoso que és.
    mas eu reconheço e dou valor e terás sempre um lugar no meu mundo e coração porque és tu.

    AFTER PARIS CAME LONDON <3<3<3<3

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  2. não falhaste, tu tentaste. e aposto que agora te parece que falhaste, mas não, eu sei que não falhaste ;) e repito o comentário acima ' tenho um aperto no coração por saber que esse país não reconheça a força que és, o ser único e maravilhoso que és.
    mas eu reconheço e dou valor e terás sempre um lugar no meu mundo e coração porque és tu.'

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