20.3.11

lembro-me bem de como me aborrecia ver a minha mãe sempre preocupada com o que fazer para o jantar ou com a máquina que estava a lavar ou com a roupa por passar a ferro. Certas vezes até, quando se juntavam as amigas e, fora a típica conversa sobre trabalho, se metiam a falar das novas receitas que tinham experimentado, e como tinha corrido muito bem e era muito bom... Confesso que não entendia minimamente o porquê de toda aquela agitação com as tarefas domésticas que, para mim, me pareciam sempre tão desinteressantes e sem assunto nenhum. Pois bem, bastou-me mudar de pais e bastou-me ver-me a viver sozinha, numa casa com mais três raparigas europeias. Bastou-me começar a ir às compras sozinha e programar listas de coisas a não esquecer ora na cabeça ora no papel com dois dias de antecedência, e passar horas a olhar para uma prateleira sem saber que raio comprar. Bastou-me iniciar a lida doméstica e ouvir queixas das outras quando algo está menos bem, bastou-me ter de mudar completamente de cenário e ter de ser eu a comandar a própria vida. Bastou-me isto para agora ligar à minha mãe para lhe pedir as suas receitas de como fazer carne no forno e sopa, ou até perceber a que temperatura se lavam as lãs para não se correr o risco de posteriormente servirem à minha prima de oito anos. De uma maneira simples; bastou-me "fazer-me à vida" para compreender perfeitamente o que passei a vida toda a renegar; essa entrega desenfreada à casa e às lides domésticas que eu sempre abominei e achava que quem o fazia era porque não tinha mais nada para fazer. E agora, calo-me muito bem caladinha, enquanto estudante universitária num país estrangeiro e dona de casa, e curvo-me perante o aspirador e o detergente da loiça e meto mãos à obra, todas os dias (e às vezes quando o pior acontece, ainda sou capaz de ir a correr telefonar à minha mãe para lhe chorar no ombro as minhas vicissitudes domésticas), pois é meus caros, a vida muda(-nos).

3 comentários:

  1. e agora, até pensarás, certamente, que alguma dessas lides domésticas têm um quê de relaxantes e 'terapêuticas' - quando te tiram a cabeça das outras coisas todas do mundo.

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  2. Estás a crescer, é o que é.

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  3. (arre q o comentário n saiu :$ e esqueci-me do que escrevi...vamos lá a ver se desta vai).
    A vida é isso mesmo, quando deres por ti já estás a fazer tudo isso de olhos fechados, e mais a sentir necessidade de fazer e refazer, porque se torna um hábito, e porque de facto nós "miúdas" mudamos e os homens not ;) ...
    A vida ainda agora começou ... destes "dois passos" (um cá e outro do lado de lá), imagina quantos mais tens de dar. Mas nunca esqueças um de cada vez e sem pressas. Life is a beach right e há que domar a questão ;) so live and be happy, da melhor forma possível.
    (n foi assim que saiu á primeira mas é assim mesmo que vai:)) * Love *

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