Le fou aller à Montmartre

Pensa bem; o que é ires às compras? Digo, à parte de todo o estereótipo que a sociedade te impõe, de que vais às compras porque és fútil, porque não tens nada na cabeça, porque és material, quando vais às compras, vais porque? - Queres estar na moda? - Queres sentir-te bem? - Queres esvaziar a cabeça?

Pensa bem; o que é ires às compras? À parte de todos os motivos que podes ter para ires às compras, que sejam os que forem que só a ti te importam, ir às compras tem parlem disso uma outra metafísica. Pensemos; quantas agulhas percorreram o tecido onde enrolas o teu corpo? - Quantas cabeças pensaram esse mesmo tecido, esse mesmo padrão, essa mesma textura, esse mesmo feitio que vestes? - Quantas mais outras cabeças pensaram se essa seria ou não uma boa aposta - Quantas mulheres já não venceram e perderam batalhas para agora vestires tudo o que queres, quando deixaram os espartilhos, quando começaram o uso dos cabelos soltos, quando deixaram os corpetes, quando deixaram as meias, quando começaram o uso das calças, quando tiraram os sutiãs, quando cortaram os cabelos, e quando se despiram de preconceitos? Mais do que isso, quantos estudantes já não saíram das escolhas para te desenharem esses vestidos que experimentas nos provadores? Quantos já não falharam tentando entrar nessas escolas? Quantos já não tiveram aulas de costura às escondidas porque eram rapazes e tinham medo de serem mal-tratados? Quantos já não sonharam e idealizaram e fizeram, aquele vestido, aquele mesmo vestido, que está pendurado no cabide da loja, que é igual a tantos outros, porque foram feitos em massa, mas ainda assim, ainda que sejam feitos em massa, e tu não tenhas dinheiro para comprar um Chanel, ou um Prada, ou um Dior, e ainda que vás à Zara e vás aos saldos da Zara, e compres um vestido a 12,99€, só porque quiseste ir às compras desanuviar a cabeça, porque tens dias estafantes, e até gostas de ver as novas colecções, lembra-te sempre que há volta do teu vestido em saldos está toda uma história, de lutas, de desejos, de paixões, de impulsos. E assim, da próxima vez que te disserem que és fútil porque vais às compras, lembra-te que ir às compras é uma Arte, que deve ser entendida e compreendida e respeitada, pois por ela passam muito mais do que negócios, passam sonhos e passam pessoas que querem dar sempre mais em cada ponto por ponto, na confecção do teu vestido Prada que não tens, ainda.