17.6.11

Talvez por ter visto um filme muito cheasy, talvez por ser a última vez que te vá ver, talvez por serem as últimas semanas aqui, talvez porque ainda que passes nesta que foi a minha rua, e batas a esta que foi a porta da casa onde eu vivi, não me encontrarás mais encostada à ombreira para te mandar entrar, talvez porque não te irei fazer mais chai, nem cafés, talvez porque não vermos mais filmes no sofá cinzento, talvez porque o gato não me dará mais comichão, talvez porque não haverá mais planos para o fim de semana, talvez porque não haverão mais fotos, talvez porque não haverão mais conversas, talvez porque não haverá mais procura de definições de palavras em línguas que nos são estrangeiras, talvez porque não haverá mais vinho tinto no Pub chique, ou Rosé na sala, talvez porque não haverão mais festas de anos da Francesa no jardim da casa onde que vivemos, talvez porque não haverão mais noites em que me verás bêbeda, ou com frio, ou me darás a mão para um passeio, ou me contarás histórias e me falarás dos tantos países do mundo que já viste. Talvez porque não cozinharás mais coisas que me são estranhas ao paladar, mas não te o são a ti, talvez porque não me ouvirás mais a falar do meu país, talvez porque não me contarás mais os teus planos do próximo verão a escalar montanhas, talvez porque não te rirás mais da minha mochila com insígnias, talvez porque não me mandarás mais mensagens, ou me tocarás no cabelo, ou me dirás que gostas dos meus olhos. Talvez porque não te verei mais beber chá com leite, nem tu te rirás de eu beber café de manhã. Talvez porque nunca mais entraremos neste choque de culturas em que nos deixamos embrenhar... Nós até sabíamos que ia haver um fim, até sabíamos, mas quem é que ligou? Ele esteve (sempre) lá, e está agora ainda mais presente. Mas talvez porque nunca nos importámos, a liberdade era tanta. E agora o fim dorme comigo. Mas eu sorrio-te, do alto da angustia de te dizer adeus, sorrio-te porque me fizeste feliz, e aceno-te para te agradecer, e viro-te as costas para te recordar encostado à mesma porta, à qual tantas vezes também eu me encostei. Tu já não vês, mas parto com chuva nos olhos, e sorrio-te no entretanto, guardarás de mim apenas a fotografia mental de uma partida alegre, jovem, correcta. O resto, só a mim dirá respeito, e tu, terás sempre uma festa da aldeia qualquer onde me viste pela primeira vez...

2 comentários:

  1. adorei este post! acho que foi dos meus preferidos que aqui li. Disseste tanto em pequenas palavras..

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  2. "E agora o fim dorme comigo. Mas eu sorrio-te, do alto da angustia de te dizer adeus, sorrio-te porque me fizeste feliz, e aceno-te para te agradecer, e viro-te as costas para te recordar encostado à mesma porta, à qual tantas vezes também eu me encostei."

    esta foi a minha parte preferida :) Gosto muito da maneira como escreves

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