2.10.11

Estava sozinha, na casa grande. Estava sozinha na casa grande e sozinha com ela mesma. Pegou na recordação dele, a da cabeça e a do armário. Aqueceu água, escolheu o chá e ferveu-o. Bebeu(-o), a ele, a recordação dele, a água fervida e o chá que ferveu. Pensou. Pensou enquanto bebia, bebeu. Recordou, lembrou-se do sorriso dele, das expressões dele, dos passos dele, das palavras dele. Teve saudades. Na casa grande sentia-se sozinha. Sem ele, com a recordação dele e o chá que ferveu. Tinha dores na garganta e o peito, na cabeça. Na cabeça, doía-lhe a alma, a memória, o pensar. Estava feliz ali, mas sozinha na casa grande. Via-o, dentro da cabeça, via-o nitidamente e a nitidez da cabeça de pouco lhe servia. Tentou encontra-lo, em algum lugar onde afigurasse no seu quarto. Não afigurava nada, o quarto mudara e dele nada era palpável. Tentou apagar as luzes e escrever, escreveu, de luzes apagadas a memória era mais sensível. Escreveu, escreveu, escreveu. Do vago do seu quarto, nada dele restava. A casa mudara, ela, mudara de casa e esqueceu-se do seu lugar.

1 comentário: