8.3.12


minha querida, 
são vinte anos. teus. são mais de dez, nossos. isto, são muitos anos. é uma vida, duas vidas aliás, a minha, trezentos e sessenta e cinco dias mais velha, e a tua, trezentos e sessenta e cinco dias mais nova. e têm sido muitas coisas, muitos sítios, muitas viagens, muitas mensagens, muitas saídas, muitas chegadas, um sem-número infindável de uma correspondência tão própria que ao longo do tempo temos mantido tão nossa em qualquer parte do mundo, têm também sido muitas discussões, muitos sorrisos, algumas lágrimas pelo meio: raivas passageiras, gritos altos, abraços toscos, uma cumplicidade inimaginável, com tudo o que de bom e de mau possa partir daí. são vinte anos, são mais de dez dos quais eu faço parte, é uma vida quase conjunta. já te odiei tantas vezes, tá de adorei muitas mais, já te quis perto, já te quis longe, já te voltei a querer perto, agora, por outros motivos, não te quero longe, mas quero que fiques ai onde estás, na certeza derradeira de que aí é que estás bem, embora estejas longe; o nosso longe, já é senão mais habitual. são vinte anos e muitas asneiras, são vinte anos e muitas vitórias, são vinte anos e muitos erros e muitas conquistas, são uns vinte anos maduros no querer, jovens no sentir, aventureiros na partida. são vinte anos, nem mais nem menos. talvez a idade certa, talvez no sítio certo, talvez, no tempo certo. são vinte anos, nem mais nem menos. à trezentos e sessenta e seis (?) dias atrás estávamos na terra da rainha, tínhamos voltado de um bailado e três estrangeiras escondiam-te um bolo de smarties com quase dezanove velas (não conseguimos comprar todas) na cozinha lá de casa, claro que sabias, mas, foi bom na mesma, comemos bolo e discutimos, muito. acabámos a noite a rir e a falar de coisas, muitas coisas, lembras-te? hoje, estamos trezentos e sessenta e seis dias mais velhas, parece que foi ontem, e sim, muito mudou, hoje não tenho nenhum bolo de smarties para ti, não vamos discutir, e tu vais sair à noite, não para ver um bailado comigo na terra da rainha, mas para dançar (?) sabe-se lá o quê um pouco mais a norte. hoje, é na mesma o teu dia, são vinte anos, duas décadas. deverás ser mais responsável? talvez. deverás manter a pose? talvez. mas não o faças, hoje, são vinte anos, get crazy, be happy, do something stupid, be free. são vinte anos e são teus. aqui deste lado, não há bolo, mas há um postal por escrever que chegará elegantemente atrasado, mas algo mais do que dez anos de amizade já permite certas liberdades (quando foi que o tempo passou tão depressa?!).
minha querida, são os teus vinte anos, sei com verdade que os vais viver bem, com as amarguras próprias de quem tem vinte anos, com os sonhos derradeiros que a idade acarreta, mas, não lhes sintas o peso, eles, estão mais leves do que nunca. são vinte anos e são teus, faz deles o que te aprouver, no, i won't find no one like you. 


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