3.4.12

tenho um livro que veio de longe. veio de longe e cheira diferente, como a algo que veio de longe, um cheiro longe que aqui não existe. tenho um livro que veio de longe que cheira a viagens e a aventuras, que cheira a isso porque veio de longe, embora fale de coisas que não têm a ver com viagens. tenho um livro que veio de longe, que cheira ao longe e que não fala de viagens, nem conta histórias nem sofreu incontornáveis aventuras. tenho um livro que veio de longe e está agora aqui, como eu vim de longe e estou agora aqui. sempre que olho para ele e o cheiro, este cheiro que ele tem de quem vem de longe, dá-me vontade de fazer a viagem de volta, de ir daqui para longe e de ficar ali longe, ali um bocadinho longe para sentir alguma coisa. agora não sinto nada. tenho um livro nas mãos que vou cheirando e crescendo em mim a vontade de partir outra vez. agora, não tenho nada; só um livro que veio de longe e uma vontade rompante de partir, outra vez. 

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