1.9.12

Para quem vive aqui, o verão, é o mesmo todos os anos. Não existe a euforia de fazer as malas e ir de férias, as férias são passadas exactamente no mesmo sítio, o sítio com que muitos vão sonhando ao longo de todo o ano, imaginando aquelas poucas semanas em que descem para sul e se contentam em viver despreocupados à velocidade, lenta, dos dias quentes que o calor trás.  
Os que vivem aqui, durante o ano inteiro, habituam-se a ver, nesta altura, quem chega e quem parte, sempre ao mesmo ritmo apressado de querer viver tudo o que o sul tem para oferecer. Muitos chegam ainda verdes, ainda inexperientes, muitos vêem de muito longe, e complementam a internacionalidade que as ruas algarvias já tão bem conhecem. À noite, a versatilidade de línguas imperceptíveis tomadas pela alegria do álcool português, tornam as noites quentes do verão a utopia das verdadeiras férias. Uma felicidade rápida que desaparece na manhã seguinte, quando a cabeça pesa mais do que o corpo, e nem a àgua fresca do mar Atlântico serve para acalmar a dormência. 
Para quem vive aqui, todos os anos vemos chegar diferentes, o mesmo número de pessoas, que enchem as mesmas ruas habituais. 
Para quem vive aqui, a tal magia do verão sucumbiu-me há já vários anos. Os jovens do sul, deixam o verão ideal para trabalham nos bares onde os outros se divertem, ouvem as conversas, apanham copos, servem bebidas, limpam as casas de banho cheias de vómito, separam brigas que as cabeças leves não evitam, vêem-nos balançar ao som das músicas hit de cada ano, e enquanto correm de um lado para o outro sorriem com simpatia por cima de todos os inconvenientes para que a gorjeta ao fim da noite, dê para sobreviver aos meses de inverno em que tudo pára. 
Para quem vive aqui, o verão, é o mesmo todos os anos. A praia, o sol e o calor, deixam de ser uma atracção para se tornarem o maior pesadelo. Ninguém aguenta o calor que Agosto não poupa nos mais de 35º diários enquanto se limpam mesas do café, se atendem clientes em lojas locais ou se observam as crianças felizes dentro da água. 
Para quem vive aqui, os três meses de verão são meses de trabalho, um trabalho que cansa porque está calor e há demasiada gente na rua, um trabalho que, embora ingrato é ele que faz sobreviver quem vive num sítio onde só há vida a partir da primavera. 
Para quem vive no Algarve, o verão não passa de outra estação qualquer, embora mais quente. As noites são mais alegres e as ruas mais coloridas, sempre ao estilo das modas de cada ano. Fazem-se amigos de verão e provavelmente haverá sempre um romance típico da época.. 
Se assim não fosse, o Algarve seria muito mais triste do que já é quando não há sol. 
Quem vive no Algarve também se alegra ao ver chegar a gente, e se entristece ao vê-la partir quando no fim de Agosto as ruas outrora barulhentas começam a ficar vazias e o silêncio ecoa nos bares cheios de lembranças. Existe sempre uma certa nostalgia para quem cá vive a amaldiçoar os três meses de verão, são assim, pessoas sentimentais, que vão criando laços com cada um que mandam para o raio-que-os-parta em noites de bubedeiras. Quem vive no Algarve está habituado a dizer adeus sempre por esta altura, com a promessa de que para o ano dizem olá novamente. 
Para quem vive no Algarve, o fim de Agosto trás mais espaço, o ar é mais respirável, a água mais fresca e os passeios mais vazios, há menos gente nos supermercados, e as compras são mais tranquilas, sem aquelas filas demasiado grandes para qualquer algarvio. 
Para quem vive no Algarve, os meses de calor são isso mesmo, meses de calor, mas o verão começa em Setembro. 

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