E a vida segue lá fora

Muitas vezes chego aqui com o coração pequeno e a cabeça em orbita de dezenas de pensamentos diferentes. quase sempre paro, sem escrever, e depois escrevo ou não escrevo, é indiferente. Mais uma vez, chego aqui com o coração pequeno, mais uma vez, em torno da cabeça giram mil e uma questões, às vezes pergunto-me se algum dia terá paz. 

Hoje chego aqui com o coração pequeno porque vou vendo partir os muitos que vivem, com eu, com um coração selvagem a pulsar dentro do peito, na pressa quase incompreensível de viver tudo de todas as maneiras. Por compreender a natureza desses corações, hoje não choro, ao invés, esboço um sorriso por ver partir as almas aventureiras com que tive o prazer de me cruzar. A cabeça questiona-me se encontrarão paz esses corações, se encontrarão Casa, se a coragem os continuará a conduzir mediante essa inconfundível saudade ordinária, portuguesa, solitária. 

E depois, que não há nenhuma receita mágica para isto, que as coisas são como são, que tudo o que acontece não é por acaso, que temos de nos aguentar à bronca. 

Depois, também há os que ficam a ver os outros partir, esses também lhes dói, para esses também não há nenhuma receita mágica. Parece que a vida é assim, que às vezes temos de deixar os amores para trás, e ir sozinhos, mesmo que ninguém seja feliz sozinho, lá longe há sempre a esperança de encontrar algo melhor, há sempre a esperança. 

E por isso te digo Raquel que não tenhas medo de partir, que os corajosos também são os que partem, que os mais corajosos são mesmo esses, os que partem, nus de um passado que após a primeira fronteira ficará para trás das costas. Depois há outras rotas, outros caminhos, outros conhecimentos. Somos nós os filhos dos descobridores, o nosso sangue é este, a vontade de partir além-mar, a adrenalina do desconhecido. Não tenhamos medo embora partamos de lágrimas nos olhos. Agora, a vida segue lá fora...