27.5.13

as minhas histórias #11

Quando os artistas chegam existe uma primeira hora de distância. Olhares curiosos percorrem a sala, estudam os gestos de um lado e do outro, procuram conhecer-se, reconhecer-se talvez. Quando o sol se põe ao fim do primeiro dia, já há sorrisos, piadas, conversas ainda tímidas mas felizes. Depois vão passando mais dias, vamos comendo em conjunto, é à mesa que se criam as mais verdadeiras amizades. Amamo-nos uns aos outros apenas com palavras, em conversas despimo-nos mutuamente e ali ficamos aprisionados nas histórias excitantes que a vida da estrada tem para contar. Vão-se passando as horas, os dias, trabalhamos uns com os outros, uns pelos outros, uns para os outros. Sabemos que a despedida é inevitável quando entramos para o último espectáculo da semana. Sabemos que no dia a seguir diremos adeus e entre abraços e promessas ficaremos a olhar para a estrada de onde uns partem e os outros ficam no momento onde tantas vidas se cruzaram. Sabemos que depois deste tempo já nada será igual. Sabemos que depois de nós a vida parece mais cheia, há um valor, um motivo para estarmos aqui, todos. Ao final do último dia enquanto uns partem e os outros ficam, o peito fica mais pesado ninguém sabe porquê. A mesa vazia já não acolhe nem conversas nem sorrisos e a sala está silenciosa. Prometemos que um dia, um dia, haveremos de nos encontrar de novo, algures pelo mundo, afirmamos. Nessa altura, o mundo, parece um lugar pequeno. Sorrimos sorrisos tristes enquanto acenamos adeus nostálgicos. Os corpos pedem descanso mas ainda há forças para um último abraço, alguns beijos porque somos franceses; um dia voltaremos a encontrar-nos faz eco na cabeça. 

Os artistas partiram, tenho o peito pesado...

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