12.5.13

as minhas histórias #10

Do lado de cá pergunto-me como estará Lisboa. Penso, imagino, relembro-me, mas não tenho saudades. Do lado de cá questiono-me como seria estar neste momento lá, lá longe, em Lisboa, mas não quero voltar. São apenas hipóteses que me passam pela cabeça, pequenas, nefastas. Não quero voltar. Sei como está Lisboa. Sei que está onde sempre esteve, cheia dos mais admiráveis génios incompreendidos, artistas vagabundos, músicos, vendedores, sem-abrigos. Um sem fim de famílias, gerações e gerações, estrangeiros, a deambularem pelas ruas antigas do Pessoa, do Almada, às portas da Luvaria Ulisses, a beber um copo de vinho tinto em Alfama, e ser se não mais, tudo o que são, à portuguesa. Relembro com saudade que também eu, andei incompreendida por Lisboa, vi os mais belos entardeceres desde a Graça e bebi vinho tinto pela garrafa numa ruela qualquer. E olhando para trás relembro estes tempos, boémios, posso chamar-lhes, com alegria mas não quero voltar. Estou cheia de Lisboa. Estou cheia dos génios, dos vagabundos, da calçada, do vinho tinto. Estou cheia desse ser-se em português que asfixia e não nos deixa continuar para além do Tejo. Oh mas eu continuarei, já depois do Tejo, já no Mar do Norte, e além-mar seguirei! Lisboa, ficou às portas do Atlântico, a ser própria,  e a ser bela. E eu que agora lhe viro as costas e lhe grito que não quero mais! Que o azul belo do mar já não me encanta, que me desenamorei pelo entardecer, que a luz que tem já não me diz nada! Já não sou feliz em Lisboa. Não, não quero voltar Lisboa, além de ti, o Mar. 

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