17.11.14

Tenho 23 anos e menos 3 pessoas na minha vida desde o ano passado. Vivo numa casa muito longe de casa e estou à parte das vidas mundanas que acontecem nas casas onde não estou. Faço-me filha, sobrinha, prima e amiga presente, mas em relações pelo Skype, sem abraços e sem beijinhos e sempre desde a mesma cadeira solitária. Anoitece às três da tarde e escrevo muitos postais que seguem com selos bonitos a mostrar que aqui é que há esperança. Mas não há esplanadas nem bicas ao final da tarde. Leio muito, escrevo muito, aprendo muito, mas não chega. Num lugar tão distinto a etiqueta de MADE IN que nos distingue, trespassa a um novo tipo de intolerância: a intelectual. O acto de comprar bilhetes de avião divide-se entre a contagem dos dias que antecedem a ida e os que antecedem a volta, e em nenhum dos dois existe reconforto. Voltar para um lado ou para o outro significa abandono, entre a vida que está lá e a que está cá, ou o inverso. De repente uma e outra já não existem uma sem a outra, mas subdividem-se em pequenas categorizações; comportamentos sociais intolerados num sítio e tolerados no outro, e ao fim do dia uma grande dor de cabeça por ter de memorizar tantas regras. Mas a infelicidade está em chegar a casa e não haver o cheiro do jantar em preparação, de não se pôr a mesa, de não haver discussões sobre o telejornal. E ainda quando se chega a casa e alguém do quarto ao lado está a cozinhar o seu jantar, e vá lá que exista o cheiro a comida estrangeira, que nos perguntem como foi o dia, e que entre o corredor e a cozinha existam três dedinhos de conversa, quando vamos ao Skype estão lá menos 3 pessoas com quem falar, com quem explicar a trivialidade do que cozinhou o colega do quarto ao lado para o jantar dele,e assumir que comemos ovos porque não dá para mais, porque está escuro desde as três da tarde, o quarto é frio, e o café é mau, mas que há esperança porque os postais, afinal, são bonitos.

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