1.11.09

LOVE


O mundo está bom. Obrigada.

Tinha muita coisa para escrever, mas mesmo agora dissiparam-se-me as palavras pela memória.
Esta minha memória tão cheia de coisas, como ficheiros metidos em pastas e pastas num portátil qualquer.
A minha memória é portátil.
O mundo é vazio, mas está bom, obrigada.
As coisas da minha cabeça estão na minha cabeça como pelo mundo, chegam, e ficam ou vão. Mas o mundo está bom, obrigada.
O mundo é bonito, as pessoas, as coisas, tudo a uma distância tão ínfima e imunda, que podemos ter tudo na mão, na esquerda ou na direita, tanto faz.
E tão grande é o amor, tão grande a bondade, tão grande a fraternidade entre nós, nós exterior e nós interior, nós e os outros, nós e o mundo.
E o mundo está bom, obrigada.
É tão imenso o belo, a harmonia que me rodeia, é tudo tão perfeitamente cor-de-rosa magnífico que bem me parece estar no monte Olimpo na melhor companhia divina até.
A esta volta, a esta ida, apenas bondades, lágrimas nem velas, pois que mais seja, os sacos lacrimais avariaram.
E o mundo está bom, obrigada.
Parece-me é que metemos demasiado pesadelos no quotidiano, tantos fantasmas, tantos medos, tantas dores.
Deixemos as dores meus amigos, os fantasmas passam e os medos são apenas intempéries que demoram mais tempo a passar.
E tão bela é a peça de teatro que desempenhamos todo o tempo, tão bons actores somos, tão bom guião, tão bom tudo, tudo tão belo.
E que mais amigos meus?
O mundo está bom, obrigada.
À minha volta apenas corações que voam, à minha volta apenas pássaros que cantam, à minha volta as paredes todas cor de céu na alvorada.
À minha volta, tudo.
E o mundo vai bem, obrigada.
Dentro de mim, espelhos que se partem no chão aos estilhaços.
Dentro de mim os meus pés descalços que pisam os vidros e se cortam.
Dentro de mim, sangue frio nos meus pés cortados.
Dentro de mim, facas que se entranham na minha pele.
Dentro de mim, os meus ossos cortados ou partidos, os meus ossos partidos ou cortados, estas facas dentro de mim estas dores por mim dentro.
Dentro de mim lágrimas inundam sonhos em pesadelos.
Dentro de mim o sangue dos outros, a carne a apodrecer dentro de mim, tudo a dissipar-se dentro de mim, tudo a sumir em sombras às portas da meia noite.
Dentro de mim tudo desfeito, tudo partido.
Dentro de mim névoas, trovoada e corações cor-de-rosa com pardais a voar.

7 comentários:

  1. Eu gosto tanto desta forma tão tua de escrever. Tenho saudades :$

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  2. Meu Deus, não acredito.
    Que soberbo, não sei se tens noção do que escreveste.
    Agora sim, o mundo vai bem. Vai mesmo bem.
    'A minha memória é portátil.' Como uma vez disse na aula de filosofia 'A mente é o laboratório da filosofia.'
    'Parece-me é que metemos demasiado pesadelos no quotidiano, tantos fantasmas, tantos medos, tantas dores.' Até dói ler isto, de tanta realidade nua e crua que aqui pões.
    'E tão bela é a peça de teatro que desempenhamos todo o tempo, tão bons actores somos, tão bom guião, tão bom tudo, tudo tão belo.' Isto fez-me lembrar um texto que eu escrevi há muito muito tempo ('quando eu era nova', ahah.) sobre uma marioneta. - nós, os Seres Humanos.
    Está lindo, está mesmo.

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  3. oh, fico muito feliz por te ver mais vezes pelo blog :}

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  4. o mundo está bom, obrigada. está pois, mas tem dias. "O mundo é vazio, mas está bom, obrigada"

    <3

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  5. E olha, deste eu gostei muito :) *

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  6. sim, também gosto, mas pronto, há uns que gostamos mais x)

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  7. muito obrigado, continuarei a ler :)

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