5.12.09

Tateou

A banda toca.
Lá fora o grito moribundo dum tempo sem coordenadas.
Cá dentro um batimento vazio, um preenchimento do que fora, no passado talvez longíncuo e astuto aquilo a que chamei história vazia apenas cheia de momentos e acções perdidas nesse tempo que passando não passa.
Doença.
Dor agoniante tão fora como dentro, gera inaceitação social.
Gera, torbulência marítima e a peça é toda ela uma enorme banda desenhada em tamanho relativamente maior que o habitual.
Muito maior.
Os olhos espalhados pelo caminho não vêem nada, não lhes apresentem nunca nada nunca.
Estão cegos e ao que parecer que parece nada parecerá senão um conto qualquer acabando em final feliz.
Não há final feliz nas histórias, mas ao parecer todos acreditam neles.
Incoirente estupidez mas ao parecer nem esta enganação quotidiana se faz notar, como tenho dito, é um ponto pouco forte naquilo que é ou pensamos ser a realidade.
Ora, ao importar-me eu, rastejo-me para a penumbra da exclusão, excluindo-me a mim própria de mim mesma, serei portanto exilada dentro e fora de qualquer eu que se apresente ao mundo, apresento-me.
Não quero nada querendo tudo, por não querer nada não quererei nem tudo nem coisa nenhuma que é afinal daquilo que as minhas mãos estão cheias.
Quem me fez viver enganou-se, no tempo.
De enganos está cheia a cama onde me deito, enganada morre a minha alma minuto após minuto.
B-a-n-g.
B-a-n-g.
B-a-n-g.
Oiço tiros.
A minha pele atrai o chumbo que me mata a inteligência, que me injecta uma ignorância já dissecada.
Já não sei nada.
Se correr daqui pra fora esfolarei os joelhos, e com eles em sangue serei livre.
Até com eles em sangue.
Principlamente com eles em sangue.
Quero que me escorra sangue pelos joelhos como quando caia no alcatrão, quero que este sangue saia deste corpo, quero viver.
Vou pintar as unhas.
E se as pintar, roxo.
Estou descontente com esse horizonte que finda.
Então adeus, vou esfolar os joelhos, na recordação mais viva que tenho do que é existir e se existir é esta degradação humana a que me sujeito dia após dia então não prefiro ter os joelhos em sangue, perfiro o corpo todo.
A infelicidade de espírito não é uma condição a que me proponho, é uma condição a que estou imposta.
O meu nome é nome em demasia estou cheia destas mãos destes pés deste corpo, estou cheia e vazia de mim.
Ninguém me impede de esfolar os joelhos aqui ou na Tunísia, e aqui ou na Tunísia esfolar-me-hei por inteiro, mais que não seja para sair pura desta ecadernação dourada onde vivo, mais que não seja para viver, principalmente para isso mesmo.
A única coisa que faço é sobrepôr.
Sobreponho isto, sobreponho aquilo.
Sobrepor-me-hei a mim mesma, e o único proprósito disto é não haver proposito nenhum.

3 comentários:

  1. olha mais outro texto tão lindo para mandares para qualquer sitio, o mundo merece ler os teus textos, um dia vou querer saber como é que te vêm estas palavras e estes textos à cabeça. é tudo tão belo, que parece fácil, mas de fácil não deve ter nada. :) <3

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  2. ah, é verdade, adoro a mudança no blogue. a imagem ai em cima é mesmo linda!

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  3. eu gosto tanto do que escreves, :)

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