13.5.10

P. de conversar

(...)

- Eu emprestei o meu coração a um rapaz sem meias às riscas e ele pegou nele e deitou-o pela janela, depois caiu no chão e partiu-se. Quando o fui apanhar já nao o consegui colar de novo...

- Sabes, meu amor, tens de comprar massa daquela colorida. Tens de criar tu o que falta a esse coração. E só tu sabes fazê-lo. Sabes porquê? Tens mãos de artista. Tens de unir os bocados que restaram e cobrir as falhas com essa massa cor-de-paixão. Depois leva-lo ao forno. Ele fica seco, sabes que isso de corações partirem quando são jogados por rapazes sem meias às riscas da janela deve-se muito à humidade. Então vai ao forno, fica seco e estaladiço. E quentinho. Depois vais à gaveta e tiras de lá aquele verniz cor-de-beijo que nunca te atreveste a usar e pincelas o coração. Fica como novo. Depois oferece-lhe um para-quedas. Pelo sim pelo não, é melhor precavermo-nos sempre das janelas.



- E da próxima vez que cair não parte mais?


- Pode raspar os joelhos, sabes que essas traquinices têm sempre sequelas. mas o para-quedas irá protege-lo dos grandes golpes : )

- Ah, melhor assim. Pensava que ia ficar sem coração, eu que até percisava tanto dele. Vou guarda-lo bem guardadinho, e não o vou dar mais a rapazes sem meias às riscas. Pelo sim pelo não, guardo-o cá dentro.

- Sim. Tens de olhar sempre para as meias. Ou então levantas as tuas calças e dizes: eu uso meias às riscas e tu? Nota-se logo que aqueles que engelharem a testa e torcerem o nariz, não percebem nada de nuvens de algodão doce, e céus rosa-choque aos domingos.

- Hum. É verdade. Só vou falar com rapazes que gostem de voar e sonhem com a terra do nunca. Os outros não vão conseguir nunca umas meias às riscas. E eu não quero que o meu coração seja joagado pela janela nunca mais. Doi muito quando sai do peito, amor.


- Sabes o que é que eles têm que ter também? Pupilas dilatadas.Grandes muito grandes. Para caber o mundo inteiro lá dentro. Este e o seguinte. Todos os mundos.


- Nunca vi nenhum assim. Se calhar é isso. Faltam-me encontrar os olhos grandes no meio da meia noite.


- No meio da multidão. Ou por entre uma encadernação grossa. Os das letras são sempre mãos fortes, daquelas que sabem segurar corações sem os deixar cair. E, olha que os corações são muito escorregadios. Diabretes!


- Então querida, vou ficar sentada na estrela mais alta à espera de encontrar lá de cima alguma camisola verde alface no meio da multidão. Se tiver uma camisola verde alface certamente saberá agarrar corações. Não vou procurar nada, vou esperar que o livro das palavras bonitas venha ao pé de mim. Achas que vem amor?


- Acho que sim. Quem tiver uma camisola verde alface de certeza que olha para as estrelas e se perde num azul cor-de-mar...

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