13.5.11

ainda ontem estava a pensar, nesta amizade que tenho, posso dizer; já algo antiga. E no passar de tantos momentos felizes que esta amizade me trouxe. Esta amizade que tenho, já algo antiga, posso dizer; mudou-me a vida. Não completa nem drasticamente, mas pouco a pouco foi-me incutindo novos valores, ponderação nos pensamentos, mais sensatez na resolução de problemas. Esta amizade que tenho, posso dizer, em muito contribuiu (e contribui) para a minha evolução enquanto cidadã e enquanto ser humano. Pois foi uma coisa espontânea que aconteceu, porque as coisas acontecem, e se desenvolveu ninguém sabe bem como, criando raízes que se foram fortalecendo a pouco e pouco. Esta amizade que eu tenho, já algo antiga, nunca teve necessidade de afirmação ou de explicações, ou de justificações. Sempre foi o que foi sem que nunca nenhum esperasse mais do que aquilo que existia, existindo sempre algo que a tornava especial. Não tenho bem a certeza qual o sentimento que hei-de atribuir a esta amizade que tenho, mas sei que é algo mais forte do que posso detalhar. Lembro-me que foi esta amizade que me levou à estreia do filme The Dark Night, naquela que penso, terá sido uma das primeiras idas ao cinema. Foi esta amizade que me levou a conhecer o Hardcore e me mostou H2O, e Men Eater, e fez o Congas dos For The Glory escrever-me um bilhete no meu dia de anos, naquela que foi a melhor prenda que recebi em todos os anos. Foi com esta amizade que de todas as vezes que saíamos para ir tomar chocolate quente, o único chocolate quente que era mesmo chocolate, no café lá do outro lado da vida, começava a chover sagradamente. Foi esta amizade que me ensinou que qualquer rapaz, por mais velho ou mais novo que seja, deve sempre acompanhar uma rapariga à porta da sua casa, por cortesia, porque ela ainda existe, e para se assegurar que esta fica bem. Foi esta amizade que me ensinou que embora se deva falar com pessoas no geral, não se lhes deve abrir o coração no geral pois isso pode doer. Foi esta amizade que me mostrou o Into the Wild, mesmo que odiasse o filme e me tenha contado o fim antes, foi esta amizade que me ofereceu o dvd, gravado, mas não importa. Foi com esta amizade que vi o Slumdog Millionaire e discuti sobre as políticas portuguesas, e a cultura inglesa que tanto me transtorna. Com esta amizade já me ri bastante, mas também já fiquei irritada, ou com o orgulho ferido, porque esta amizade não tem medo de me confrontar com os meus erros, com os meus medos, e com os meus defeitos, esta amizade não tem medo de mim, porque me ensina e me conduz. Esta amizade vale-me ouro, porque me dá segurança, e confiança, e amor-próprio. Esta amizade é muito diferente de mim, e por isso, penso, funciona muito melhor. Nesta amizade já me lembrei de coisas relativamente estranhas, como da última vez que tive o cabelo cor de laranja, antes de o pintar de outra cor, cotrei-lhe uma madeixa, num cor de laranja vivo, ali parado para sempre naquela cor incontestável, atei a madeixa a uma linha, enrolei-a numa fotografia dos Beatles e ofereci-a. Nunca mais me esqueço do olhar assustador com que me fitou, num pensamento que adivinhei ser "para que raio quero eu isto?!" - não sei bem para que raio quereria isso, mas sabia que era uma das prendas mais minhas que poderia oferecer. O meu cabelo nunca mais teve aquela cor, mas acredito que algures ainda haverá a madeixa guardada na fotografia dos Beatles. Um dia, juntei-me até a um dos meus melhores inimigos, para comprarmos uma prenda de natal. Foi uma boa atitute só pelo facto de ver a cara de espanto com que nos olhou, e depois a sorrir abriu a prenda, um DVD dos Queen. Uma vez encontrei um Vinil, numa lojinha em segunda mão perto da montanha, no norte de Inglaterra, o vinil conseguiu atravessar as milhas todas que me separam de Portugal e chegar intacto, sabe-se lá como, o meu orgulho foi enorme, não pela prenda em si, mas pelo que conseguiu aguentar. Mas falhei numa coisa; até hoje guardo comigo a fita de curso que me foi dada a assinar, preta, no simbolismo forte daquilo que significa, e até hoje, não consegui palavras para ficarem para sempre escritas. Ainda não desisti, e por isso tenho a fita guardada, junto a todas as minhas palavras já escritas, ainda que vazia, sem nada inteligentemente brilhante que lhe mereça a pena. Fico em pânico cada vez que penso em escrever-lhe. Talvez não seja ainda o momento, mesmo já depois do curso acabado. Talvez não seja ainda o momento para dizer tudo, dizer tudo é tanta coisa. Mas tenho a fita guardada, no meio de todas as palavras, pode ser que um dia consiga escrever na fita, ou apenas escrever, sobre o meu grande amigo M.

1 comentário:

  1. A fita é só uma fita. Tenho fitas escritas de pessoas com quem mal falo hoje, pensado erradamente que talvez a amizade que tinha com elas seria mais do que meramente circunstancial. Por isso, pelo menos em relação à fita que ainda tens, posso assegurar-te que em nada me preocupa que não a tenhas ainda devolvido. Afinal, o que interessa, é a pessoa que assina a fita ... não o contrário.

    Quanto ao resto, palavras para quê? É bom saber que fiz ou faço a diferença ... mas não fiz assim tanta. Os teus feitos são teus, as tuas conquistas são obra tua ... em algumas coisas posso-te ter recordado dos caminhos ou ter dado força para continuar numa direcção, mas a vontade já estava dentro de ti e não fui eu, isso é certo, que te deu a vontade de caminhar!

    Como compreenderás, é difícil comentar posts sobre nós próprios ... por isso fico-me por aqui, certo de que saberás que qualquer falha no meu discurso será compensada pela sinceridade dos sentimentos, assim como é para mim certo que este post, embora em muito me alegre, é também um mero reflexo de algo genuíno e verdadeiro. Porque escrever, "qualquer um" escreve ... sentir, não é para todos.

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