9.11.11


Hoje não, começava assim o título de um livro que gostei muito de ler. Hoje não, como se à partida nos impedisse alguma coisa de alguma outra coisa. Hoje não, sinto-o eu. Agora mesmo, hoje. Não. Por favor, penso, por favor, não hoje. 

Só queria dormir um bocadinho, dormir só um bocadinho e não pensar em nada. Deitar-me sem barulho e acordar, podia ser com a chuva a bater-me da mesma forma na janela, mas acordar em paz? Talvez, pudesse ser possível? Acordar em paz. Dormir faz-me mal, sonho muitas vezes, muitas vezes com muitas coisas, com muitas coisas más que me fazem mal. Depois, acordo com o barulho ensurdecedor das obras no andar de cima, e fere-me o sentir. 

De outro modo, só consigo ler com um lusco fusco fraco. Quando a luz do quarto está acesa, tenho claridade em demasia para me conseguir concentrar num livro, ou no que for. Perciso de espaço, espaço nos olhos, sem ter uma luz de cima a fazer-me pressão no que vejo, se o que vejo é isto, se é isto, porque há-de vir de cima? 

O universo, ah, o universo, essa  coisa não o consigo explicar, mas ele acaba por acontecer todos os dias. Não é que isso me deixe feliz, deixa-me só tranquila, saber que o universo acontece, todos os dias. 

Ás vezes lembro-me da Casa, tenho saudades. Muitas. De subir às árvores e comer figos com. Já me esqueci da dor do prazer de esfolar os joelhos vitoriosamente, esfolar os joelhos era um orgulho, sinal profundo de que fomos capazes de fazer algo verdadeiramente grandioso. Já não sinto essa adrenalina há tanto tempo. Esfolar os joelhos, uma coisa tão simples, como esfolar os joelhos. 


E um cão, toda a vida acompanhada por esses companheiros fiéis, a tudo. Hoje, já não estou perto, estarei longe? A Casa segue igual, só quem a habitava é que vai mudando, pouco a pouco, a casa perdura nos tempos e no tempo, e depois de nós, quem?!

Hoje, ah, hoje não. Eu só precisava de dormir um bocadinho, e não me lembrar durante um bocadinho das aulas de amanhã ou dos testes da próxima semana, ou de ir beber café com os amigos, esses fiéis companheiros que conseguem levar-nos tanto, também temos que os cuidar, e devemos cuida-los bem, mas agora, hoje, só precisava de dormir um bocadinho, e esquecer-me um bocadinho do mundo, e que o mundo gira, e que eu dou mais de mil voltas com ele e chego sempre ao mesmo sítio. Hoje, não, só precisava de dormir um bocadinho e esquecer o vosso mundo, para adormecer um bocadinho com o meu. E acordar com paz à volta. Hoje, sim. 

2 comentários:

  1. "Não é que isso me deixe feliz, deixa-me só tranquila, saber que o universo acontece, todos os dias"

    gostei muito prima :)

    ResponderEliminar
  2. Nunca mais cá vim comentar, mas quero que saibas que leio todos os teus textos à mesma e passo por aqui quase todos os dias, para ver se há algo novo. :)

    ResponderEliminar