25.1.12

contos #1

depois acordou e pensou que estava bonita, não era só pelo casaco novo vindo sabe-se lá de onde, havia algo mais; houve no acordar qualquer coisa, uma determinação íntima em sentir-se bonita. depois, foi até à cozinha fazer café, olhou pela janela e não pensou em nada, enquanto a água fervia, continuou a olhar pela janela e a não pensar em nada e as pessoas passavam na rua. Quando se olhou ao espelho sorriu-se, sentia-se de facto bonita: uma beleza feia no entanto, uma beleza que não é bela nem especial nem nada e, ainda assim sentia-se bonita, mesmo bonita, se calhar era do casaco novo ou era das pessoas que passavam na rua ou era do sub-inconsciente que lhe informava o sistema nervoso que estaria bonita naquela manhã. e assim, de todas as intermináveis possibilidades possíveis que podiam explicar porque se sentia bonita, apenas uma ocorreu: sentia-se bonita, apenas isso, acordou e sentia-se bonita, não era algo em que tivesse pensado: "hoje vou sentir-me bonita", não, isto não é algo em que se pense nem se decide, ninguém decide que hoje se vai sentir bonito, ninguém pensa sequer em sentir-se bonito como resolução própria, nem ela o fez. levantou-se apenas, fez o seu café, bebeu-o, vestiu o casaco novo, pegou nas chaves, abriu a porta e saiu; assim sem remorsos, sem voltas atrás para conferir que estava tudo bem, sem se esquecer de nada, sem desistências, saiu, com a cabeça firme,  fechando a porta atrás de si, saiu para a rua, triunfante, sentindo-se bonita, sentindo-se sem nenhum tipo de dúvida, mesmo bonita. 

2 comentários:

  1. Gostei muito, apesar de ter um final um pouco vago :) Tens uma bela história para contar, deixa-me que te diga! ;p

    ResponderEliminar
  2. Dessa perspectiva até tem lógica :) E acho que deves sempre sonhar com o teu final feliz, nunca se sabe o dia de amanhã! ;)

    ResponderEliminar