21.1.12

não será engraçado a maneira como as coisas acontecem? qual é o propósito, por exemplo, de vivermos aqui, aqui ou em qualquer parte do mundo onde vivamos? porquê que temos estes amigos, e não outros, que poderiam perfeitamente ter boas qualidades de amigos também? porquê que escolhemos ir por um lado do passeio e não pelo outro? o dia é esta infinita imensidão de probabilidades, de destinos, de escolhas, esta descoberta de rumos que podemos ou não tomar e depois, quase que chegamos sempre ao mesmo percurso, mudamos pequeninas coisas, mas até casa atravessamos sempre o mesmo caminho, até ao café da esquina andamos mecanicamente, quando andamos pelos lugares comuns, já nada é novidade nem fascínio. às vezes penso para mim que era melhor que todos os dias me fascinasse de novo com o que me fascinou outrora, descer a avenida da liberdade e encantar-me de novo com a impotência das arquitecturas, deliciar-me novamente com a estátua do marquês, ou, chegar ao rossio e sorrir à praça. como seria sentir todos os dias a alegria da primeira vez? aquela que foi eufórica, avassaladora? era engraçado, rio-me disto ao imaginar todos os dias todas as pessoas encantadas com o quotidiano, seria até de certa forma ridículo. já nos habituámos a viver no «sem vontade» do Régio, a não sorrir uns aos outros porque não os conhecemos, porque não são de confiança e poderão fazer-nos mal, porque temos medo... muitas vezes gozo com esta linha de pensamento e, ao tentar combatê-la encontro-me ainda mais vezes a sorrir às pessoas na rua, ou onde quer que seja. tenho pela noção que me levam de tola, mas a sensação de receber sorrisos em tom de agradecimento preenche-me o sentir o suficiente para que não me preocupe com opiniões públicas. esta faceta minha já foi para além do sorriso inocente às pessoas por ai, depois do sorriso, toda a minha cabeça é teorias sociológicas e dissertações sobre a humanidade (não me tenho esquecido do que aprendi nas aulas de estudos culturas do primeiro ano de faculdade...), eu acho engraçado, estar à espera do metro e sorrir ao rapaz do outro lado da linha, que olha para baixo e desvia os olhos, entrar no metro e sorri à senhora de cara amuada, que olha para mim com desconfiança e me devolve um sorriso ainda maior, passar na rua e sorrir a alguém que segue em sentido contrário que me olha com a confusão de quem não percebe porque lhe sorriem, ou então parar, e sorrir ao senhor que está ali sentado na calçada, e ele a sorrir-me desdentado com alegria nos outros. é, divirto-me a sorrir às pessoas, não porque sou um ser-humano fantástico e defensora dos pobres, mas porque gosto de ser egoísta o suficiente para ganhar assim sorrisos anónimos, ora tímidos, ora doces, ora extrovertidos, sei lá, acho que se ganha muito a sorrir, mais do que com palavras, o sorriso é algo aconchegaste. se pensar bem nisso, poucos dos meus colegas na faculdade me sorriem, ou poucas senhoras das fotocópias dessa mesma faculdade, ou até poucos dos senhores dos cafés também da faculdade, digamos que, na faculdade, sítio onde passo a maior parte do meu tempo, ninguém me sorri. mas depois, vou na rua, e estranhos dão-me sorrisos simples, grandiosos, fenomenais. claro que isto que para aqui digo tem inúmeras contradições, se calhar na faculdade não me sorriem porque o ambiente é outro, ou porque se calhar também não lhes sorrio da mesma forma que às pessoas na rua, mas ainda assim, atrevo-me a assinalar a monotonia clássica que impele na minha faculdade, ou noutras zonas de trabalho das quais eu não faço parte, logo não me aprouve falar. na verdade, esta conversa dos sorrisos vem em ilustração de uma simples pergunta que me  tenho feito ultimamente «Já foste feliz hoje?» o mais raro diriam os espanhóis, é que ultimamente tenho sido feliz varias vezes durante os dias, até. acredito que não conseguimos ser felizes durante um grande período de tempo consecutivamente, mas sim, que tenhamos «surtos» de felicidades momentâneos, e isso, tem-me acontecido o bastante desde que me comecei a perguntar «Já foste feliz hoje?» e depois, ocorre-me dizer a mim mesma, que sim, já fui feliz hoje, e ontem, e no dia anterior... parecerá isto muito estranho? tal é a forma que a sociedade está a tomar, agora, parece-me estranho ter sido feliz momentaneamente tantos dias seguidos... mas e tu, Já foste feliz hoje? 

2 comentários:

  1. Sabe tão bem perdermo-nos na graça dos outros. Mesmo quando o dia corre mal, quanto nada bate certo e um sorriso apenas nos torna capazes de ver o lado positivo de tudo. É por isso mesmo que me farto de sorrir. Com sinceridade.
    E agora que lia o teu sorriso neste texto, também sorri :)

    ResponderEliminar