19.1.12



tinha catorze anos na primeira vez que andei de avião. tinha dezanove na primeira vez que andei de avião sozinha, tinha dezanove quando mudei de país. tinha dezanove anos quando viajei. sim, acho que é isso. fiz aos dezanove anos a primeira viagem da minha vida. agora que penso nisso, quase parece longe demais. tinha dezanove anos quando decidi que era hora de partir, na altura parecia fácil demais; comprar um bilhete de avião (só de ida), entrar no mesmo avião, chegar a um sítio novo, e viver lá um ano. não me pareceu nunca má ideia, nem me pareceu nunca difícil de aguentar, pois, apesar de ter um bilhete só de ida, sabia que voltaria mais cedo ou mais tarde. acabaria, eventualmente, por voltar, pois a ida, tinha afinal de contas data marcada. 
agora que penso nisso o fácil  foi ainda assim entrar no avião, ainda que às voltas no aeroporto, ainda que com medo de estar lá sozinha, ainda que olhando pela janela e dizendo adeuzinho à pátria amada, parece que, foi isso o mais fácil. 
tinha dezanove anos quando fiz a primeira viagem da minha vida, quando finalmente decidi que havia de me ir embora, de virar costas sabe deus a quê, e encontrar noutro sítio, nova gente, novas coisas, novos «mundos». que estaria eu à espera? que esperar de alguém que aos dezanove anos ruma sozinha a outro país? coragem, cobardia? quem o poderá dizer? 
no fundo sou apenas uma dos tantos outros milhões que todos os dias partem também. e partir é bom, é bom quando se viaja não por se ir dentro de um avião, não por se mudar de país, não por conhecer novas coisas, mas, por nos apercebermos de nós, cada um, individualmente. de entre todas as coisas, esta foi a viagem da minha vida sim, não por ser a melhor, mas por ter sido aquela com mais impacto, em que me descobri no meio do caos, onde aprendi a levantar-me com mais convicção depois de ter caído tantas vezes... esta foi a viagem da minha vida, haverão outras, espero, haverão outras descobertas, outras resoluções, outras perspectivas, mas esta aos dezanove anos, mudou algo cá dentro. e agora, aqui do meio da minha velha pátria vencida, todos me jogam em cara isso, com um «vieste diferente» que arrepia, com os olhos cheios de um frio que gela, com uma distância incrédula, como se fosse muito mau, como se a magia tivesse ficado lá longe, como se algo tivesse morrido, como se eu não fosse a mesma, ou deixasse de ter sido e isso tenha ferido orgulhos. e se calhar é verdade, mas se calhar tinha de ser assim... 

1 comentário:

  1. Partiste, deixaste que o mundo te moldasse. Ficaste diferente... e é a diferença que toda a gente teme. É o medo de mudar. Também sei o que significam os olhos frios daqueles que não entendem que tudo o que aconteceu, aconteceu por ser inevitável.
    E, uma vez mais, amei o teu texto... :)
    Beijinhos

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