13.3.12

Estudo enquanto na minha boca se desfazem lentamente quadrados de chocolate suíço, ao meu lado, repousa um chá inglês, ainda demasiado quente para que o consiga beber. O meu quarto outrora frio, está hoje, estupidamente quente; dispo o casaco de malha fina que tinha e, venho escrever. Os apontamentos da aula jazem em cima da mesa, amontoam-se os livros já tantas vezes lidos ao lado. Irei ter de provar conhecimentos em breve. Penso na estupidez de provar conhecimentos através de uma mísera folha de papel em duas horas. Quero sempre acreditar que somos mais do que uma folha de papel escrita em duas horas, mas quase que me revejo a contrariar este pensamento. Às vezes parece que não somos na verdade nada mais que isso. Alguém me veio dizer ainda à pouco que se vê Júpiter da janela, hoje. Fui à janela, ver Júpiter, mas esta cidade está demasiado intoxicada com ela mesma e não há Júpiter que se veja. Fiquei melancolicamente entristecida, não gosto de estrelas, fazem-me pensar o universo e, quando penso no universo vejo-me a cair num buraco sem fundo e sem respostas, por isso, faço por me esquecer que ele existe, tenho medo do sem fundo, mas ter ido à janela e não ter visto Júpiter, deixou-me desconcertada. Queria ter visto Júpiter da janela, uma noite por acaso, ter visto um ponto brilhante no céu, algo que brilhasse, quando eu fosse à janela. Não vi Júpiter, imagino que o universo deverá estar enfadado comigo. O chá arrefeceu, alguém no quarto ao lado fala alto ao telefone, acabo sempre por ouvir todas as conversas cá de casa. Os apontamentos da aula continuam exactamente no mesmo sítio, é incrível como as coisas nunca se mexem dos mesmo sítios onde as deixamos. Imagino um mundo onde elas de facto de mexessem, seria complicado. Bebo chá ao ritmo que penso nas pessoas, umas melhores que outras, umas mais belas que outras, umas mais vis que outras, umas mais do que outras... Pensar nas pessoas nunca dá resultado nenhum, é como pensar no universo, é um buraco sem fundo. Vejo-me a cair, a cair, a cair...

4 comentários:

  1. Fui à janela e da minha janela consegui ver Júpiter. Disse-lhe "Olá" por ti :)

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  2. Júpiter visto de cá de baixo dá para esborrachar com a ponta do dedo. Logo à noite digo-lhe olá por ti ;)
    Gosto muito da forma como escreves. Parabéns ;)

    **

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  3. Adorei a forma como transmitiste na perfeição esse sentimento. Eu própria me senti desconcertada, ainda por cima com esta magnífica banda sonora como pano de fundo. Gostei muito! Um Beijo.*

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  4. Muito obrigada pela sugestão! Vou investigar :p E adorei o texto. Penso exactamente no mesmo, demasiadas vezes.

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