11.4.12


Eu gosto de escrever cartas. Sempre gostei. Antes ainda de saber escrever, penso eu, já gostava de cartas. Não poderei dizer que foi «algo que nasceu comigo» mas foi sim algo que «cresceu comigo» e foi ficando mais forte. O melhor, é que tenho de facto a quem escrever cartas, que me escreve de volta, não é fantástico? Não só escrever cartas, enviar cartas, mas receber respostas? Uau. Parece incrível que ainda existam pessoas que escrevem cartas - Para quê? Podiam simplesmente escrever um e-mail, ir ao Facebook, mandar uma mensagem - Sim, pode funcionar com os outros todos, comigo em particular, não funciona. Eu, nova ou velha para o tempo em que vivo, cresci e formatei a minha personalidade com a crença que escrever cartas era «fixe» e enquanto existir, vou acreditar piamente que escrever cartas é inquestionavelmente «fixe», venha o que vier eu, em particular, continuarei a escrever cartas. Hoje, escrever cartas parece algo em-vias-de-extinção, digo isto pois de todas as vezes que envio cartas, os senhores dos correiros sorriem-me com aquela nostalgia de um passado longe e olham-me com uns olhos enternecidos, certamente pensam que devo ter algum desequilíbrio juvenil, ou que não tenho dinheiro para um computador (?). Os senhores dos correiros, nem sempre me questionam sobre as cartas que escrevo, sobre o tempo que passo a escreve-las, sobre o caminho que percorro para as enviar ou sobre o dinheiro que gasto em mete-las nos correios. Isso, para quem escreve cartas por amor, como eu, não interessa rigorosamente nada. Os senhores dos correiros devem saber isto; devem saber que isto não importa para nada, porque quando eu no outro dia fui aos correios entregar uma carta e pedi  (como peço sempre) para porem selos em vez do autocolante branco no envelope, o senhor dos correiros, olhou-me com os olhos enternecidos e disse-me «nunca deixe de escrever». O senhor dos correiros, que não me conhece de parte nenhuma, que não sabe a quem escrevo cartas, o tempo que demoro a escreve-las, o caminho que faço para ir aos correios ou o dinheiro que gasto para as enviar, disse-me com os olhos enternecidos e a brilhar para eu nunca deixar de escrever, o senhor dos correios, que nem sequer sabe que outras pessoas já me disseram o mesmo, também não sabe que por ele me ter dito aquilo, ainda tenho mais amor em escrever cartas, sim, nunca deixarei de escrever, porque agora sei que o senhor dos correiros acredita em mim e nas cartas que eu escrevo. Sim, eu em particular, nunca deixarei de escrever cartas, porque ao ver os olhos do senhor dos correios brilharem e saber que sou uma excepção à regra, enche-me de júbilo. Eu, em particular, nunca deixarei de escrever cartas, pelo senhor dos correios, por quem as escrevo e pelo amor que tenho em escrever. Escrever cartas é inquestionavelmente «fixe». 

3 comentários:

  1. um dia escreve-lhe uma carta e entrega-lha em mãos. todos nós merecíamos receber uma carta na vida. amor entregue em mãos. fazia de nós melhores. mais cheios. o amor nas mãos.

    ResponderEliminar
  2. Partilho dessa opinião. Ainda hoje continuo a escrever cartas e tenho um ataque de cada vez que me respondem à carta por e-mail ou sms!

    ResponderEliminar
  3. Afinal ainda somos alguns, querida Emília! Também gosto de escrever/receber. Mas tenho uma panca por enviar a mensagem que quero em fotografias/postais :)

    **

    ResponderEliminar