7.2.13

o amor (?) é fodido #1


Podia isto ser a Grécia Antiga, eu chamar-me-ia Penélope e tu Ulisses. Eu esperaria por ti, bordaria a mesma toalha ao longo de 20 longos anos e um dia, um dia, tu chegarias vitorioso à porta da nossa casa e eu receber-te-ia de braços abertos. Nesse dia queimaria também a toalha. 
Podia chamar-me Penélope, podia chamar-me Afrodite, podia chamar-me Pandora, podia ter qualquer nome, estar em qualquer lugar, podia ter tido qualquer história. Infelizmente tenho um nome bastante vulgar para o mundo dos mortais, não criei nada de novo, não fiz nenhum grande feito para a salvação de nada ou de ninguém e no entanto sinto-me mais Penélope que nunca, sinto-me Atena até. Dói-me até a alma, sufoca-me até o peito, irrito-me, entro nesta batalha contra ti: caio, choro, luto e nunca venço. Nunca se acaba esta maldita guerra, nunca mais queimo a merda desta toalha que já está rota de tanto bordado desmanchado e cosido outra vez. E para quê? Que guerra é a tua? Que mundos são esses que andas a descobrir? Que rotas são essas que atravessas quando tens estado sempre no mesmo lugar e a única que tem andado para um lado e para o outro sou eu?! O mal desta história, o mal desta nossa história é que eu não me chamo Penélope nem isto é a Grécia Antiga e 20 anos a bordar é muito tempo. Oh vinte anos, nem metade disso, nem um terço! Diz-me que guerra é a tua ou desiste de uma vez desta batalha inútil que as minhas armas já estão em baixo e a fogueira está mesmo ali ao lado. Eu não me chamo Penélope meu amor. 

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