3.5.13

as minhas histórias #8

Cheguei aqui há três meses - foda-se - três meses é muito tempo. É difícil lembrar-me de como era a vida antes de chegar aqui, parecem-me todas memórias demasiado nubladas dentro da cabeça, não fazem sentido. Como raio era a vida antes de chegar aqui? Demasiado pesada que valha a pena uma recordação. Cheguei aqui há três meses, três meses pode ser muito tempo. Tenho andado pela mesma rua todas as manhãs, no sistemático percurso da casa onde vivo até ao sítio onde trabalho, às vezes de mau humor, às vezes a pensar como a rua é feia, às vezes a pensar que devia era comprar a puta de uma bicicleta para não andar tanto, às vezes, no entanto, feliz. Cheguei aqui à três meses, e a verdade, é que me estou nas tintas para o que era a vida antes de chegar aqui, nada dessa me importa. Longe anda já a calçada lisboeta e as casas brancas que o sol humildemente ia contornando, longe andam já as tardes em que percorri essa mesma calçada, como aqui percorro a estrada de betão. A verdade é que as cidades portuguesas são de uma beleza incondicional e isto aqui não é bonito. Mas se me é difícil lembrar de como era a vida antes de chegar aqui, ou porque não quero, ou porque não devo, é porque por mais bela que a Lusitânia seja, foi aqui que encontrei paz. Talvez não procure o belo. Talvez tenha encontrado um lugar meu nas águas mórbidas do Mar do Norte. Talvez queira sempre navegar por essas águas. E voltar, talvez um dia, não completamente, se o Atlântico é tão imenso... quem saberá? 

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