8.9.13

Passou o verão, finalmente. E com o verão passaram outras coisas. Li no outro dia num jornal sobre os que vão, partem para a aventura do desconhecido. E os que ficam, nas brumas do que conhecem, vãos. A verdade é que se parte sempre com o coração na boca, prestes a ser vomitado, com as entranhas que essas putas das saudades sempre vão fazendo amargar. E a verdade é que se fica sempre com aquele buraco no peito, onde outrora esteve um coração, que asfixia até o melhor dos samaritanos. A verdade é que os que vão e os que ficam deixam de ser inteiros, dividem-se às metades por ai; pelos que os levam, e pelos que os deixam, ficando a existência dividida por cantos e recantos de um mundo que se diz global. Uma merda! Ninguém é feliz sozinho nem mesmo na eternidade, disse Torga. Ninguém é feliz sozinho em parte nenhuma. Nem ninguém devia ser deixado a este abandono das aventuras: nem os que vão ao sabor do desconhecido, nem os que ficam na amargura do que conhecem. Partir nunca é fácil, mas ficar também não. Constantemente dizer adeus a quem se quer bem. Vê-los partir por ai, sem caminhos, e acenar ao de leve sem o paninho branco de outrora, mas com o peito apertado que já nem é peito nem é nada. E os que vão, sem caminhos nem coragem de olhar para trás, porque se olharem é capaz de se ir a vontade de mudança e que se lixe o el dorado, quer-se é o calor daquela que foi um dia a terra que deu mundos ao mundo. E assim, com o verão passam as histórias, os reencontros, os abraços, os sorrisos, as noites longas de Agosto, e erguem-se os caminhos todos que nos levam de volta sabe-se lá onde. E com o verão, acabam-se-nos as pessoas, acabamo-nos nós, e voltamos por ai às aventuras ou à rotina portuguesa. De uma forma ou de outra, os que vão e os que ficam, despedem-se ao final de Agosto, num entardecer que já não é tão grande como dantes, num sol posto que se finda às oito horas. Sou má de Agosto, também me vejo sempre a partir para me encontrar, sabe-se lá onde.

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