22.11.13

two feet standing on a principle 
é a primeira frase da música que comecei a ouvir, enquanto vim aqui, tentar escrever(-te). Não sei onde encontrarei as palavras que são precisas serem ditas, neste momento, e nos que se seguem. É que no absurdo desta realidade, nada me parece palpável. Será que estou a dormir? 

Quero escrever(-te), e saber, dentro de mim, que estas palavras (te) chegam, de alguma forma, de algum jeito. Dentro de mim, sei que chegam somente à parte de ti que guardo comigo, à imagem que fui guardando em mim, com o passar dos anos: o teu sorriso, a tua vontade, a tua alegria, a tua garra, a tua coragem imbatível...  Esta imagem que agora me corre constantemente na memória, na cabeça, no coração, e pelo corpo todo me arrepia, me preenche, e me faz sentir um vazio inigualável e inacreditável. 
Não sei como será possível (sobre)viver a partir daqui, com o caminho incógnito que temos por diante, com a caminhada inglória que seremos obrigados a percorrer, sozinhos, até que a estrada se nos finde, e te (re)encontremos lá ao fundo. 
Supõem que estarás melhor assim, que terás encontrado paz, que estarás agora num sítio mais bonito, pergunto-me se será assim, estarás em paz, num sitio mais bonito? Estarás feliz?   
É-me inconcebível ter de acreditar que me morreste, sendo que essa imagem me parece uma mentira muito amarga num Abril que é Novembro. Numa realidade que parece irrisória, enterrada nas lágrimas que não consigo chorar. 
Acreditar que te deixaram morrer é acreditar que hoje é Novembro e nao é Abril, que nunca mais me irás abrir a porta da tua casa, que nunca mais me irás convidar a entrar no Fiat 500 branco, e incrivelmente feminino, que nunca mais me irei sentar no sofá a teu lado e ouvir-te dizer o quanto é mau entrar na universidade com crianças de dezoito anos.  Acreditar que te deixaram morrer é acreditar que me morreste de facto, e eu não tenho coragem para acreditar nisso. Acreditar nisso é acreditar que nunca mais me vais sorrir, e eu não tenho a força de enfrentar a tua ausência.
Ninguém te devia ter deixado morrer, ninguém devia deixar morrer os nossos amigos, ninguém te devia ter deixado morrer, porque tu nos ensinaste tanto, e me ensinaste tanto, sem te teres sequer esforçado por me ensinar algo. Ninguém te devia ter deixado morrer porque pessoas como tu deviam ser imortais e existir para sempre. Ninguém te devia ter deixado morrer porque és inspiradora. Ninguém te devia ter deixado morrer porque te queria ter na minha vida até muito longe. Ninguém te devia ter deixado morrer... porque a ideia da tua morte, para mim, é irreal. Não passa de uma ideia, distante, que não pode acontecer, que não podia ter acontecido. Ninguém devia deixar morrer as pessoas com a tua coragem. Porque hoje, quando me fizeram chegar esta ideia da tua morte, pensei que estava a dormir, e a ter um sonho muito mau, e que esta tua morte, era uma ideia, de muito mau gosto...
E agora, estou aqui, sentada na dor da tua ausência, na fundura que a tua morte tem em mim, no sabor amargo do adeus que não te quero dizer, nunca. Estou aqui sentada, à espera que Abril acabe, que chegue um Novembro muito bonito, que me abras a porta da tua casa, que me leves dentro do teu Fiat 500, que te sentes ao meu lado no sofá, e me contes como é mau estar na universidade com crianças de dezoito anos. Estou aqui à tua espera, porque hás de ser luz e inspiração na minha vida, porque em tudo o que fizer te vou encontrar lá em cima, do alto da tua bravura, porque nunca te deixarei morrer, porque nunca hás de morrer em mim, minha querida M. 

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