26.11.13

tu morreste, e eu faço compras. 
no fundo espero que alegria breve e momentânea de possuir uma coisa nova, me traga paz. 
mas não trás, o sorriso dura um segundo inteiro, e volta a ocupar-me a cabeça um pensamento em que não quero acreditar. então vou a outros sítios, tento andar, tento cansar-me, estoirar-me tanto quando posso, para chegar à cama e dormir, apagar, e embrenhar-me numa dimensão que não me permita ligar-me à realidade. Mas depois sonho com máfias russas, tiros, e soldados mortos, e acordo exausta para começar mais um dia. Estou a aprender a andar de mota, não porque tu morreste, mas porque queria sentir o vento na cara, e agora é o coração que me quer saltar do peito, cada vez que estou na estrada. 
Tu morreste, e eu faço compras, percorro Lisboa, ando de mota, porque quero que a dor da tua ausência atenue, porque quero acreditar que não estás aqui, porque estás na tua casa, e quando chegar à tua casa, vou querer acreditar que não estás lá porque estás de férias noutro sítio qualquer. Mas tu nunca tiraste férias... 
Não sei como continuar a tentar levar a tua morte para um sítio sossegado na minha cabeça, como ao pensar que me morreste, existir em paz, comigo e com a tua morte, mas principalmente, com a tua ausência. Porque é isso que me dói: a tua ausência. A ausência do teu sorriso, do teu bem com o mundo, do teu salvem os animais,  do teu ser vegetariana, do teu deixares-te de merdas porque há tanto para viver, tanto para ler, tanto para ver, e do teu ouvir as histórias dos amigos que viajam. Deixei-te muitas histórias por contar, porque não tive ainda tempo de as viver, mas espero que de alguma forma, as possas ouvir... Que de alguma forma te possas rir delas, quando acontecerem, ou depois. Sei lá. Espero que de alguma forma a tua ausência não seja verdade, e que existas num sítio qualquer... É que isto dói como o caralho.  

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