8.12.13

Eu venho de uma casa de mulheres-mães, de mulheres à antiga, de mulheres antigas, de mulheres do campo, de mulheres de mangas arregaçadas, de mulheres do sul, de mulheres que aguentavam tudo e aguentaram tudo. eu venho de uma casa de Mulheres. E agora, que as mulheres partiram, sobro eu, filha de tantas mulheres que me fizeram nascer e nascida em tantos momentos... E agora que tu, a última das mulheres da minha vida, me morreu, eu andarei aqui, a tentar alcançar uma parte da metade de tudo o que fostes em mim. Mas o tempo foi sempre pouco, e eu fui sempre pouca, e tu foste sempre tanto, e nunca, por nenhum momento deixarei acabar a memória, o impacto da tua vida em todas as outras vidas. Tu, a última das mulheres à antiga, em quase um século de existir, acenas-me desse lado e estás em paz. Se a tua vida foi esta imensidão. 
Não chorarei se te amo, quiseste dizer-me, que estás já absorvida por essa luz... E lembro-me dos bons momentos que vivemos juntas, e vejo que a saudade é também presença, e espero que me venhas consolar, e espero que agora estejas em paz. E tenhas encontrado todos os que estavam à tua espera. Que eu continuo aqui, à margem da existência que me deram, tentando dar sempre mais do que sou, e ser o melhor que posso, porque um dia, também eu irei ao teu encontro, e também tu estarás lá para me receber, já velha. 
Mas choro, porque te amo, porque foste uma das mulheres da minha vida. Porque o és velha Laurinda. 

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