14.1.14

Falta um par de semanas para me enfiar naquele avião. Quem é que disse que não conseguia voar? Consigo. Bastam-me um punhado de papéis com fotografias e um nome identificativo, uma breve inspecção feita por estranhos de fardas escuras, uns quantos corredores, e umas escadas que me levam para dentro de um pássaro gigante feito de turbinas e motores. E isto não é sequer a Alice no País das Maravilhas, nem o futurismo de Álvaro de Campos que estudei há uns anos. No meio das listas que vou escrevendo para acalmar o bater do coração, das velhas saudades portuguesas que já vão tomando posse de mim, dos últimos passeios pelo por-do-sol de Lisboa e pelos mares do Algarve, o mais difícil de escolher é o livro que me acompanhará na viagem. Os limites da realidade impõem-me que leve só um, eu mesma imponho-me a levar só um. São várias as razões.  Mas depois olho para a estante; eu sou todos os livros que tenho. Olho, olho e olho. Uma e outra vez, e uma e outra vez ali fico parada, olhando. Sem saber se escolho o mestre, o viajante ou o inconformado. Se eu sou todos os livros da estante, e todos os outros que tenho por ai.

Sem comentários:

Enviar um comentário