9.3.14

Comprei lençóis da cor do mar, um azul turquesa profundo. Da cor dum mar que só existe na minha cabeça. Nenhum mar é azul turquesa profundo, mas na minha cama é, na minha cama tenho o mar que tenho na minha cabeça, e assim, estou mais perto de casa, duma casa que me é familiar, mas que não é minha, nem é para onde quero ir, neste momento, nem no próximo. Pertenço à geração do abandono, à que não tem casas, à que são sabe o que é nem para onde vai, pertenço à geração da apatia, da nostalgia, dos adeus, das aventuras-sem-fim que parecem amaldiçoadas; pertenço à geração das relações por Skype, a muitos kilometros de distância.  Comprei lençóis da cor do mar, porque assim quando me deito, penso que sou infinita, no mar que é a minha cama, onde sonho e viajo sem fim. Na cama onde a minha geração e eu, temos propósitos, temos sonhos, e temos destinos. Não nos abandonamos, não somos vagabundos de nós, nem amamos aos bocados. Comprei lençóis da cor do mar, que não tenho, porque estou longe do meu país, no país de alguém que está longe daqui. Ambos mendigos de um propósito que não leva a lado nenhum. Comprei lençóis cor do mar, para viver nesta casa estrangeira que não é minha, onde construo memórias estrangeiras um dia e outro, com a outra que também tenta ser tão feliz quanto eu, mas no quarto ao lado, e num universo paralelo. E seremos eternamente estranhas a dividir o mesmo espaço, nesta vida que nos obriga a amizades forçadas por circunstâncias da vida, mas que rapidamente nos faz tornar partes essenciais uns dos outros, raios parta à empatia. Comprei lençóis da cor do mar, um azul turquesa profundo, porque quando me deitar, me quero esquecer que o abismo no meu coração, é tão grande como a profundidade do mar que não tenho em mim. Somos ambos infinitos.  

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